10 Out 2016 4:29
Tinha completado 90 anos no dia 6 de Março: o mestre do cinema polaco Andrzej Wajda faleceu no domingo, dia 9 de Outubro. O seu derradeiro filme, "Powidoki" (título internacional: "Afterimage"), é o candidato da Polónia a uma nomeação para o Oscar de melhor filme estrangeiro (as nomeações serão conhecidas a 24 de Janeiro).
Sempre fiel a um olhar humanista, resistente a todas as formas de manipulação e repressão política, Wajda manteve-se fiel a uma visão crítica do regime comunista, exemplarmente condensada naqueles que são, afinal, os seus dois títulos mais célebres: "O Homem de Mármore" (1977) e "O Homem de Ferro" (1981), este distinguido em Cannes com uma Palma de Ouro — eis o trailer da cópia restaurada de "O Homem de Mármore".
Muito marcado pelas memórias da Segunda Guerra Mundial, Wajda definiu as bases temáticas e estéticas do seu universo através de uma célebre trilogia constituída por "Uma Geração" (1955), "Morrer como um Homem" (1957) e "Cinzas e Diamantes" (1958). "Morrer como um Homem" valeu-lhe um prémio especial do júri de Cannes, afinal a primeira distinção internacional de um percurso com muitas consagrações, incluindo um Oscar honorário, atribuído pela Academia de Hollywood em 2000.
O impacto de "O Homem de Ferro" abriu-lhe hipóteses de produção noutros países, nomeadamente França e Alemanha. Na década de 80, em particular, trabalhou várias vezes fora da Polónia, assinando "O Caso Danton" (1983), um fresco sobre a Revolução Francesa com Gérard Depardieu, "Um Amor na Alemanha (1983), melodrama de guerra protagonizado por Hanna Schygulla, e ainda "Os Possessos" (1988), adaptação de Dostoievsky com um elenco internacional liderado por Isabelle Huppert — este é o trailer de "O Caso Danton".
Os seus dois filmes finais foram "Walesa" (2013) e "Powidoki" (2016). O primeiro evoca a figura de Lech Walesa e, muito em particular, a sua acção nos estaleiros de Gdansk, como líder do movimento Solidarieade; o segundo retrata o pintor vanguardista Wladyslaw Strzeminski (1893-1952) e os seus conflitos com o poder político. Wajda sempre se interessou por essas figuras que, através da sua acção, transcendem qualquer dimensão conformista da história — foi um cineasta de heróis, embora preferindo sempre o realismo contra a mitologia.