28 Jan 2021 17:41
Sem nunca ter sido uma estrela, impôs-se em cinema e televisão pela espantosa versatilidade das suas interpretações: a americana Cloris Leachman faleceu no dia 26 de janeiro, de causas naturais, na sua casa de Encinitas, California — contava 94 anos.
Através da sua imensa filmografia, emerge um trabalho decisivo, pela complexidade e também pelo impacto simbólico no sistema de Hollywood: de forma arrebatadora, Leachman interpretou uma mulher solitária em "A Última Sessão" (1971), de Peter Bogdanovich, título que ficou como momento nuclear na afirmação dos independentes no interior do sistema de estúdios.
A saga de uma cidadezinha do Texas, no começo da década de 1950, cujos jovens vão partindo para a guerra da Coreia, obteve uma surpreendente colecção de oito nomeações para os Óscares, incluindo melhor filme e melhor realização. Acabaria por receber duas estatuetas douradas nas categorias secundárias de interpretação: para Leachman, justamente, e Ben Johnson.
Ironicamente, sendo uma actriz de invulgar subtileza dramática, a sua popularidade (sobretudo nos EUA) deve-se em grande parte aos papéis em ambiente de comédia — com destaque para as séries "Mary Tyler Moore" (1970-1977) e "Phyllis" (1975-1977). Em televisão, detém, aliás, o recorde absoluto de oito Emmys (apenas igualado por Julia Louis-Dreyfus).
Em cinema, o seu grande papel cómico, também famoso, ocorreu na paródia de Mel Brooks, "Frankenstein Júnior" (1974). Trabalhou, aliás, várias vezes sob a direcção de Brooks, nomeadamente em "Alta Ansiedade" (1977) e "Uma Louca História do Mundo" (1981).
De forma mais ou menos discreta, participou em filmes de registos muito diversos, deixando sempre a marca de um subtileza emocional em que o mais visível e o mais secreto contaminavam todos os seus gestos. Três exemplos modelares: "Daisy Miller" (1974), a adaptação de Henry James por Peter Bogdanovich; "Crazy Mama" (1975), delirante policial dos primeiros tempos de Jonathan Demme; e, claro, "Texasville" (1990), a sequela de "A Última Sessão", de novo sob a direcção de Bogdanovich.
Publicou "Cloris: My Autobiography" em 2009. Em 2017, a organização PETA distinguiu-a com um prémio honorário pelos contributos para a defesa dos direitos dos animais.