19 Jan 2021 1:23
Com a morte de Jean-Pierre Bacri, desaparece um actor de versatilidade invulgar que era também uma das personalidades mais genuinamente populares do cinema francês: faleceu no dia 18 de janeiro, em Paris, vítima de cancro — contava 69 anos.
A sua identidade artística é indissociável da trajectória de Agnès Jaoui, com quem viveu no período 1987-2012. Várias vezes, Bacri e Jaoui escreveram os argumentos e assumiram os papéis principais de filmes por ela realizados — o derradeiro exemplo seria "Na Praça Pública" (2018). O título mais célebre resultante dessa colaboração foi "O Gosto dos Outros" (2000), variação sobre o modelo de comédia social, amarga e doce, exemplar de toda uma tradição francesa, que obteve uma nomeação para o Óscar de melhor filme estrangeiro.
Curiosamente, a maioria das distinções recebidas por Bacri/Jaoui seriam na qualidade de argumentista, premiando nomeadamente as suas duas colaborações com Alain Resnais (1922-2014). Assim, ganharam os Césares de melhor argumento por "Smoking/No Smoking" (1993) e "É Sempre a Mesma Cantiga" (1997), ambos de Resnais, repetindo o triunfo, precisamente com "O Gosto dos Outros" [trailer].
Seriam ainda premiados na mesma categoria graças a "Un Air de famille" (1996), distinção partilhada com o realizador do filme, Cédric Klapisch. Bacri ganhou ainda o César de melhor actor secundário com "É Sempre a Mesma Canção". Em 2004, outro filme escrito com Jaoui, "Olhem para Mim", também por ela dirigido, valeu à dupla o prémio para o melhor argumento no Festival de Cannes.
Bacri representou com frequência personagens cujo desencanto se exprimia através de um misto de sarcasmo e cinismo, embora tenha sabido sempre resistir à tentação de se instalar num cliché. Entre drama e comédia, vimo-lo, por exemplo, em "O Dia do Perdão" (1982), de Alexandre Arcady, "Subterrâneo" (1985), de Luc Besson, ou "Place Vendôme" (1998), de Nicole Garcia.
Entre os seus últimos trabalhos incluem-se "E Viveram Felizes para Sempre?…" (2013), de novo com Jaoui, "Tout de Suite Maintenant" (2016), de Pascal Bonitzer, e "O Espírito da Festa" (2017), de Olivier Nakache e Éric Toledano. "Retrato de Família" (2018), de Cécilia Rouaud, foi o seu derradeiro filme.