Obituário
Morreu o cineasta de “Amadeus”
Nascido na Checoslováquia, Milos Forman foi um nome fundamental na renovação cinematográfica do seu país. Mais tarde, em Hollywood, assinaria filmes que foram (e são) grandes fenómenos como "Voando sobre um Ninho de Cucos" e "Amadeus".
15 Abr 2018 2:22
É verdade, perante a notícia da morte de Milos Forman — no dia 13, no Connecticut, onde residia —, somos inevitavelmente levados a recordá-lo como o cineasta de "Amadeus". E é lógico que assim aconteça: afinal de contas, o seu retrato de Mozart (Tom Hulce), assombrado pela presença de Salieri (F. Murray Abraham), transformou-se num fenómeno global, celebrando a música e os sabores peculiares do espectáculo.
Em todo o caso, convém não esquecer que, em 1984, quando dirigiu "Amadeus", Forman era já autor de uma obra riquíssima, iniciada no seu país natal, a Checoslováquia (nasceu em Cáslav, em 1932). Tinha sido mesmo um dos nomes fundamentais da nova vaga checa, afirmando-se através do humor cáustico de crónicas sociais como "Os Amores de uma Loira" (1965) e "O Baile dos Bombeiros" (1967).
Nos EUA, seria "Voando sobre um Ninho de Cucos" (1975), esse conto da normalidade e da loucura baseado no romance de Ken Kesey, a trazer-lhe fama e Oscars. Aliás, o filme continua a ser um dos poucos (apenas três) a conseguir o chamado quinteto mágico atribuído pela Academia de Hollywood: filme, realizador, actor (Jack Nicholson), actriz (Louise Fletcher) e argumento (adaptado, por Lawrence Hauben e Bo Goldman).
Em 1981, assinou um título igualmente brilhante, infelizmente muito esquecido: "Ragtime", uma evocação de Nova Iorque no começo do século XX, a partir do romance de E. L. Doctorow. Depois, "Amadeus" conseguiu ainda mais Oscars: oito no total, incluindo melhor filme, com Forman de novo consagrado na categoria de realização. "Valmont" (1989), "Larry Flynt" (1996) e "Homem na Lua" (1999) são outros trabalhos incontornáveis, evoluindo da subtileza do romanesco ao realismo social.
O último, em particular, merece um destaque muito especial: retratando a existência surreal do comediante Andy Kaufman (1949-1984), Forman expunha a desumanização do espaço televisivo, ao mesmo tempo oferecendo a Jim Carrey uma das suas mais admiráveis interpretações — é um filme cuja actualidade temática e energia simbólica o tempo apenas reforçou.