20 Nov 2018 2:16
De que falamos quando falamos de David Lynch?… Convenhamos que nem sempre sabemos muito bem. O que, entenda-se, não diminiu o nosso fascínio pela sua obra e personalidade — ele é, afinal, alguém que nos confronta com os limites, materiais e transcendentais, da nossa própria percepção do mundo.
Pois bem, Lynch volta a estar presente no LEFFEST com um programa que, além de filmes (alguns deles verdadeiras raridades), inclui duas exposições e o lançamento do livro "Espaço para Sonhar", de Kristine McKenna (Monumental: sábado, 24, às 17h00).
Falaremos, então, da sensação paradoxal, porventura insustentável, de não ser possível cicatrizar o real numa descrição/significação que esgote todas as suas dimensões. E não haverá filme mais exemplar dessa dinâmica que o prodigioso "Inland Empire" (2006), afinal o último objecto de cinema que, pelo menos até agora, Lynch assinou.
A história da actriz que anda à procura da sua personagem (admirável Laura Dern!) tem tanto de utopia como de pesadelo, em última instância levando-nos a repensar o cinema, não como a reprodução do que quer que seja, mas sim a produção de um mundo alternativo, incrustado no que vemos ou vivemos. Enfim, "Inland Empire" é um gesto criativo de uma liberdade que, hoje em dia, corremos o risco de já não saber desejar.
* CENTRO CULTURAL OLGA CADAVAL