12 Nov 2015 18:40
Na sua imensa lista de mais de quatro dezenas de longas-metragens, a obra de Woody Allen é, obviamente, um território de muitos contrastes. De forma esquemática, talvez possamos dizer que oscila entre a gravidade moral do seu filme mais recente, intitulado "Homem Irracional", e claro uma multidão de comédias. Uma das primeiras já tem mais de quatro décadas — foi produzida em 1972 e chama-se "O ABC do Amor".
"O ABC do Amor" começa com um episódio que se intitula “Será que os afrodisíacos funcionam?”, colocando o nosso herói (Woody Allen, claro…) no meio de uma confusão eminentemente sexual. É que, convém lembrar, o filme baseia-se num livro de aconselhamento escrito pelo psiquiatra David Reuben, em 1969. O seu título é todo um programa: “Tudo o que Você Queria Saber sobre o Sexo, mas Tinha Medo de Perguntar”.
Os temas vão surgindo em nome de uma preocupação eminentemente pedagógica: “O que é a sodomia?”, “O que são as perversões sexuais?”, “Qual o rigor das investigações científicas sobre os comportamentos sexuais?”, etc. Mas o tom não é de tese universitária. Vogamos mesmo no domínio da mais pura comédia burlesca, com Woody Allen a brincar com os temas, as normas e os equívocos de uma sociedade obcecada pelos prós e contras da performance sexual.
"O ABC do Amor" foi a terceira longa-metragem dirigida por Woody Allen, depois de "O Inimigo Público" (1969) e "Bananas" (1971). Acima de tudo, serviu para confirmar o seu talento como escritor de comédia, combinando a sofisticação dos diálogos com uma rara capacidade de desmontar os clichés sociais e comportamentais. Hoje em dia, talvez possa surgir como uma referência distante, mas é um título essencial para compreendermos a sua evolução como actor, argumentista e realizador.