01 Nov 2024
“O Conde de Monte Cristo” é mais uma adaptação do clássico da literatura de Alexandre Dumas, um dos livros mais lidos e uma das histórias mais conhecidas em França.
O novo filme é sucesso de bilheteira e das mais caras produções francesas, conta o ator Patrick Mille:
Foi o filme mais caro do ano em França, custou 45 milhões de euros, muito para uma produção francesa.
É um clássico da literatura francesa. Quando estamos na escola, lemos “Os Três Mosqueteiros”, o “Conde de Monte Cristo”, é mesmo um dos livros mais lidos na França.
O filme é um sucesso espetacular na França, quase 9 milhões de espectadores, é uma loucura.
Após terem feito a adaptação dos “Três Mosqueteiros”, a dupla de realizadores, Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte foi desafiada a realizar “O Conde de Monte Cristo” pelo produtor Dimitri Rassam, revela o ator luso-francês Patrick Mille:
“O Conde de Monte Cristo” é um monumento da literatura mundial. O sonho produtor Dimitri Rassam era fazer como o Claude Berri, que era um grande, grande produtor, que produziu “A Rainha Margot”, também do Alexandre Dumas, realizado aqui [em Portugal], pelo Patrice Chéreau.
A personagem de Edmond Dantès é a figura central de um enredo de traição e vingança. Patrick Mille recorda a história que tem inspirado outras histórias e heróis:
É uma história de injustiça. Um marinheiro traído pelos amigos. Pelo antagonista, Danglars, capitão do barco onde ele trabalha, e também pelo seu melhor amigo, que está apaixonado pela namorada do Edmond Dantès.
Então, por ciúme, vai ser traído por amigos e também um procurador da república, o Villefort. São três homens que vão pôr o pobre Edmond Dantès numa prisão do Château d’If, uma injustiça total. Portanto, é a história de uma injustiça e, depois, da vingança do Conde de Monte Cristo e da redenção.
Entre filmes, peças de teatro e séries de televisão são várias as adaptações do “Conte de Monte Cristo”. Uma delas é uma minissérie de seis episódios filmada em Portugal em 1979, com atores portugueses e realizada por Denys de La Patellière, pai de um dos realizadores da nova longa-metragem.
Para Patrick Mille, o foco apontado para a injustiça, vingança e redenção é o que distingue esta versão das outras:
Para fazer uma boa adaptação, tem de haver uma boa traição. Então, acho que é uma boa traição, porque há personagens do livro que não existem nesta adaptação, há outros que estão misturados. São mil e duzentas páginas, um filme, mesmo este, com duas horas e cinquenta de grande espectáculo, tem de ir mais ao essencial, e o essencial é a injustiça e a vingança.
Entre o extenso elenco, destaque para Bastien Bouillon, Anaïs Demoustier, Laurent Lafitte e Patrick Mille, o ator luso-francês, convidado pelos realizadores para o papel de Danglars, um dos maus da história:
É uma grande personagem, uma personagem mítica. Por ciúme, vai dizer uma mentira absoluta. Vai dizer que o Dantès é um agente bonapartista, de Napoleão, que não é verdade. É uma personagem terrível.
Os locais de rodagem dividiram-se entre França, Bélgica e Malta. Patrick Mille confirma que o verdadeiro Château d’If se vê no filme:
Filmámos no sul da França, junto à Marselha, e também perto de Paris, nos arredores, os castelos, e também em Malta. Para retratar o velho porto de Marselha, fizemos algumas filmagens em Malta. De entre as cenas no Château d’If, a única parte rodada em estúdio é a parte na prisão. O Château d’If, que era uma verdadeira prisão, depois um museu. Ninguém Marselha ia visitá-lo. Agora, com o sucesso do filme, todos os dias tem 200 visitantes.
Patrick Mille nasceu em Lisboa e viveu em Portugal até aos quatro anos. A mãe era portuguesa e o pai era o ator francês Serge Farkas, que entrou no filme “O Crime da Aldeia Velha”:
Nasci em Lisboa porque o meu pai fugiu à Guerra da Algéria. Chegou a Lisboa e era para ficar duas, três semanas. Adorou e ficou dez anos. Encontrou a minha mãe. Ele era ator. E chegou aqui em Portugal. Começou o teatro. Tinha amigos pintores, como o Mário Silva, autores, como o Miguel Barbosa. Então, fez muito teatro. Também cinema.
Filmes bastante conhecidos, como “Domingo à Tarde”, com o Rui de Carvalho. “O Crime da Aldeia Velha”. Era uma figura da Lisboa, da noite e do mundo cultural de Portugal.
O ator luso-francês sente-se português. Admirador da obra do realizador Miguel Gomes, gostaria de um dia trabalhar com ele:
Ia à aldeia da minha avó, que se chama Campo do Besteiros, perto de Tondela, no Caramulo. Voltava a Portugal todos os verões, dois meses por ano. Tenho muito orgulho em Portugal. Quando estou em França, estou sempre a dizer que sou português. E quando estou em Portugal, sou francês e português. Lisboa faz-me bem. É uma cidade impressionante. Quando não estou, tenho saudades.
O meu sonho é ter sucesso aqui em Portugal, também. Mas as pessoas ainda não me conhecem. Espero um dia fazer um bom filme, séries e teatro, aqui. Há muitos realizadores portugueses de que gosto muito. Por exemplo, o Miguel Gomes. Gostaria muito de fazer um filme com ele.