Em casa

O CONTRATO (1982)

Entre os filmes que evocam as convulsões que marcaram a transição dos séculos XVII/XVIII em Inglaterra, "O Contrato" ocupa um lugar de destaque — com ele, o realizador Peter Greenaway adquiriu prestígio internacional.

7 Mar 2019 14:54

As atribulações internas de Inglaterra e Escócia em finais do século XVII e ao longo do século XVIII sempre seduziram o cinema. O filme “A Favorita”, realizado pelo grego Yorgos Lanthimos, é apenas o exemplo mais próximo dessa coexistência das ficções cinematográficas com as memórias históricas. Entre as muitas referências que poderíamos evocar a propósito de tal temática vale a pena evocar uma que ficou especialmente associada à sua notável banda sonora.

O filme chama-se “O Contrato”, foi produzido em 1982, e tem esta inesquecível partitura musical composta por Michael Nyman. Foi também uma das primeiras colaborações de Nyman com o realizador, Peter Greenaway, um criador que sempre soube cruzar as mais diversas referências artísticas para construir os seus filmes — neste caso, trata-se de contar a aventura de um artista que é contratado para retrabalhar todas as paisagens de uma propriedade, algures no sudoeste inglês, correia o ano de 1694.

Notável no trabalho de encenação de Greenaway é a sua capacidade de elaborar um fresco histórico que se confunde com um mistério policial, numa teia de sugestões e alusões em que tudo se contamina — poder e sexo, fidelidade e traição. “O Contrato” acabou por ser o filme que conferiu a Greenaway um prestígio verdadeiramente internacional.

Vale a pena recordar que também em Portugal o conhecimento de Peter Greenaway passou de forma decisiva pelo filme “O Contrato” — revelado na edição de 1984 do Fantasporto, acabaria por tornar-se num sucesso envolvendo vários sectores do público e da crítica, no mínimo, pouco vulgar. Também para Michael Nyman, este foi um trabalho que projectou a sua carreira internacional, abrindo-lhe caminho para outras contribuições para filmes bem diferentes — nos anos seguintes, escutaríamos as suas composições em títulos tão diferentes como “O Cozinheiro, o Ladrão, a sua Mulher e o Amante Dela” (1989), também de Greenaway, “O Marido da Cabeleireira” (1990), produção francesa assinada por Patrice Leconte, ou ainda “O Piano” (1993), de Jane Campion.