23 Mai 2016 1:17
Ken Loach chegou ao Festival de Cannes sendo o mais velho realizador na competição. E este regresso sucede à apresentação de "O Salão de Jimmy" (2014), um filme que chegou a ser considerado o último do realizador.
Em 2014, Loach admitiu a possibilidade de não realizar mais admitindo ter vivido "um momento de pressão máxima, porque não tinha filmado
quase nada do filme e havia uma montanha enorme pela frente. Achei que
não conseguiria passar por isso de novo."
O realizador retomou a sua agenda profundamente política e comprometida com os mais desfavorecidos. "I, Daniel Blake" aborda os problemas da segurança social na Grã-Bretanha e as dificuldades que os serviços colocam para prestar assistência a contribuintes em situação financeira delicada.
Quando recebeu a Palma de Ouro, Loach salientou que "receber este prémio neste momento é muito estranho", fazendo questão de recordar "as pessoas que não têm comida na quinta nação mais rica do mundo, o Reino Unido."
"O mundo em que vivemos está num momento muito perigoso", adiantou. "Vivemos numa situação de austeridade procovada por ideiais neo-leberais que nos troxeram perto da catástrofe, colocando milhões de pessoas em dificuldade". Referiu-se à situação específica do Reino Unido mas alargou o âmbito da sua intervenção aos problemas vividos no sul da Europa, salientando que há "outros milhões em dificuldades na Grécia, Espanha e Portugal, enquanto uma minoria vive com uma riqueza grotesca."
A sua intervenção política levou-o a referir ainda que "a extrema direita tira partido quando há tanto despespero".
Loach não esqueceu o poder dos filmes, recordando que "uma das tradições do cinema é o de dissidência, representando o interesse das pessoas contra os que são grandes e poderosos." Concluiu o discurso formulando um desejo: "eu espero que esta seja uma tradição que possamos manter viva."
Ken Loach pertence ao grupo de cineastas
altamente respeitados em Cannes. Desde 1979 apresentou 15 filmes no
Festival. Ganhou duas Palmas de Ouro com "Brisa de Mudança" (2006) e "I, Daniel Blake" (2016), três prémios do júri com "A Parte dos Anjos" (2013), "Agenda Secreta" (1990),
e "Chuva de Pedras" (1993). Além disso recebeu seis prémios paralelos
do júri ecuménico (3) e da crítica internacional, FIPRESCI (3).
Com este prémio, Ken Loach torna-se no oitavo realizador distinguido com duas Palmas de Ouro, uma galeria onde se encontram Alf Sjöberg, Francis Ford Coppola, Shoei Imamura, Bille August, Emir Kusturica, Michael Haneke e os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne.