Maria Schneider e Marlon Brando — uma intimidade encenada em 1972

2 Set 2016 0:51

Quando se fala das representações da sexualidade no cinema, importa não recalcar o contexto em que cada filme surgiu. Lembramo-nos, claro, de "O ÚLtimo Tango em Paris", mas talvez seja importante dizer que as suas componentes sexuais estão muito longe de esgotar o seu significado e importância — estávamos, afinal, perante um filme que enfrentava as amargas desilusões herdadas da década de 60.

Foi no ano de 1972. Marlon Brando e Maria Schneider são dois amantes trágicos — no fim do mundo, apetece dizer; no fim do mundo romântico, no fim do cinema utópico. Eles encontram-se numa terra de ninguém em que as identidades andam à deriva — até mesmo os nomes verdadeiros ficam de fora da sua relação.



"O Último Tango em Paris" foi, afinal, o resultado de uma confluência invulgar: o americano Marlon Brando, claro, na mais radical exposição emocional de toda a sua carreira (era ele, aliás, o primeiro a reconhecê-lo); a francesa Maria Schneider, uma estreante com o mistério e a energia de uma genuína estrela; e o italiano Bernardo Bertolucci, assinando um dos seus filmes mais secretos e também, paradoxalmente, mais universais — tudo pontuado pela música de um argentino, o saxofonista Gato Barbieri.

Proibido em alguns países (incluindo Portugal, onde apenas se estreou depois do 25 de Abril de 1974), objecto de polémica em todas as paragens, "O Último Tango em Paris" superou as circunstâncias do seu nascimento e impôs-se como um retrato radical do modo como os seres humanos conhecem (ou desconhecem) os seus desejos — como uma dança cruel, infinita.

  • cinemaxeditor
  • 2 Set 2016 0:51

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