23 Jan 2015 2:04
Como se prova por "Mamã", o mais recente filme de Xavier Dolan, no seu cinema são permitidas as mais contrastadas nuances. Na música, por exemplo: podemos ouvir Bach ou Dalida a cantar "Bang Bang". É isso mesmo que acontece em "Os Amores Imaginários", porventura o emblema da sua sedução — e também do seu desencanto — face ao romantismo.
"Os Amores Imaginários" coloca em cena as atribulações de um trio de amigos aproximados e afastados pela mais velha das músicas — a música do amor. Quando realizou este filme, Dolan tinha 21 anos. E ao contrário dessa moda dos nossos dias em que a exposição mediática dos jovens parece passar obrigatoriamente pela superficialidade e pela patetice, Dolan afirma-se um autor de corpo inteiro, muito sério e também muito sensível ao humor que, por vezes, rasga as evidências do quotidiano.
Na história recente do cinema — canadiano ou de qualquer outra nacionalidade — Xavier Dolan surge como um exemplo admirável de alguém que sabe retratar o seu tempo (o nosso tempo), mantendo uma relação intensa (apetece dizer, carnal) com a radiosa tradição do melodrama. É um tom, um estilo que apela sempre ao tom, ao estilo de alguma canção.