15 Jan 2015 20:47
Os Oscars não são alheios a controvérsias mais ou menos antigas. Por exemplo, lanço apenas a dúvida mais insólita: faz sentido incluir um filme como "American Sniper" (espantoso!) na lista dos nomeados, deixando Clint Eastwood fora das escolhas para melhor realizador?… Velha questão, de facto.
Vendo as coisas pela positiva, vale a pena destacar alguns aspectos que conferem a esta 87ª edição dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood as marcas particulares de uma ponte entre o velho e o novo, a vitalidade das memórias e a pluralidade do presente. Eis cinco pontos a ter em conta:
1 – ROBERT DUVALL — ganhou um Oscar de melhor actor por "Amor e Compaixão" (Bruce Beresford, 1983). Dir-se-á que a sua presença na lista de nomeados para melhor actor, com "O Juiz", o coloca numa plataforma apenas simbólica, de ligação ao património clássico de Hollywood (ele que tem uma carreira de mais de meio século). Talvez. Em todo o caso, num contexto de emergência de novos talentos cuja imagem pueril se confunde com os "super-heróis" que representam, Duvall serve também para lembrar que essa coisa de representar em frente a uma câmara não é tarefa banal.
2 – MARION COTILLARD — desde que ganhou um Oscar com "La Vie en Rose" (Olivier Dahan, 2007), ela é também uma estrela de Hollywood. Em boa verdade, só assim se compreende que uma francesa, num pequeníssimo filme belga — "Dois Dias, uma Noite", de Luc e Jean-Pierre Dardenne —, chegue a mais uma nomeação. E creio que não será preciso repetir que o filme dos Dardenne é admirável e Cotillard genial.
3 – MERYL STREEP — com três prémios de interpretação, é uma das lendas vivas de Hollywood. Mas surge aqui como protagonista (involuntária) de uma contradição: a sua nomeação para melhor actriz secundária acontece através de um filme — "Caminhos da Floresta", de Rob Marshall — que, afinal, confunde espectáculo com agitação da câmara e, no limite, não tem nenhum programa consistente de trabalho para os actores…
4 – "IDA" — o belíssimo filme polaco de Pawel Pawlikowski, sobre uma jovem que, no começo dos anos 60, enfrenta as memórias trágicas da Segunda Guerra Mundial, está nomeado para melhor filme estrangeiro e também na categoria de melhor fotografia (Lukasz Zal e Ryszard Lenczewski). Dito de outro modo: a Academia destaca, assim, um filme com imagens a preto e branco, coisa que, face ao novo-riquismo televisivo, continua a ser muitas vezes olhada de forma suspeita… Ainda bem que esta opção nos ajuda a recordar que, afinal, uma parte vital da história do cinema existe, justamente, a preto e branco.
5 – ALEXANDRE DESPLAT — já tinha sido nomeado seis vezes, desde "A Rainha" (Stephen Frears, 2006) até "Filomena" (Stephen Frears, 2013). Agora surge através dessa proeza que consiste em estar duas vezes nomeado para o Oscar de melhor música, com "Grand Budapest Hotel" e "O Jogo da Imitação". Apetece dizer que este notável compositor francês que se tornou uma figura modelar da actual produção americana, mesmo não ganhando ainda o seu primeiro Oscar, será um dos símbolos mais fortes da cerimónia do dia 22 de Fevereiro.