24 Mai 2024
O realizador brasileiro Karim Aïnouz regressa a Cannes com “Motel Destino”, um dos filmes mais eróticos da corrida à Palma de Ouro, com inúmeras cenas de sexo filmadas com a ajuda de um coordenador de intimidade, uma atividade cada vez mais difundida na indústria cinematográfica.
O realizador de 58 anos congratula-se por ter recorrido a estes profissionais, cuja função é ajudar a filmar cenas de sexo ou nudez de uma forma que respeite os atores.
“Foi ótimo trabalhar com um coordenador de intimidade. A coreografia (das cenas de sexo) e o respeito pela intimidade são duas faces da mesma moeda”, disse à AFP.
“É muito importante: durante tantos anos, houve relações sexuais abusivas no cinema, abusos de poder, e é preciso fazer uma espécie de reparação histórica. Não chegámos a estas situações de abuso sexual por acaso”, acrescentou.
Os coordenadores de intimidade estão cada vez mais presentes nos cenários dos filmes, nomeadamente em Hollywood, mas nem todos os realizadores os utilizam. Também em competição em Cannes, o americano Sean Baker disse à Variety que não tinha nada contra se um ator o pedisse, mas que não tinha sido o caso no seu filme “Anora”.
“Já realizei cerca de dez cenas de sexo na minha carreira e sinto-me muito confortável com essa situação. A nossa prioridade é que os atores estejam seguros, protegidos, confortáveis e envolvidos no processo”, explicou.
O filme de Karim Aïnouz, “Motel Destino”, retrata um triângulo amoroso num motel de luxo junto ao mar, tendo como pano de fundo o sexo obsceno e a delinquência, numa atmosfera ligeiramente surrealista. De volta ao Brasil, o cineasta também vê o seu filme como um retorno à vida após o mandato do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro.
“Queria fazer um filme erótico, sensual, mas uma sensualidade que celebrasse a vida e não que falasse da morte. Para mim, isso é muito importante, depois de tanto tempo sob um regime autoritário no Brasil, um regime aterrador cuja verdadeira obsessão era a morte. Eu queria fazer um filme em que as pessoas celebrassem a vida. Acredito que não há nada mais vital do que o sexo”, disse Karim Aïnouz.