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“Porque é que já não há sexo nos filmes?”, pergunta Yorgos Lanthimos
O realizador apresentou em Veneza uma nova versão do mito de Frankenstein com uma mulher que descobre os prazeres e as desigualdades do mundo.
02 Set 2023
“Pobres Criaturas” (Poor Things), uma comédia gótica que se alimenta da fábula de Frankenstein, estreou no Festival de Cinema de Veneza na sexta-feira, trazendo inteligência, surrealismo e vastas doses de sexo. Realizado por Yorgos Lanthimos tem Emma Stone no papel de Bella Baxter, uma jovem mulher trazida de volta à vida depois de se ter suicidado na Londres vitoriana.
“É definitivamente um filme difícil de descrever”, explicou Lanthimos em conferência de imprensa. “Tive de mudar a estrutura do romance, que é um ensaio mais político, em muitas partes, e concentrar-me mais no ponto de vista de Bella, na sua viagem pelo mundo.
A ligação à atualidade é assumida: “Penso que é um tema muito atual, porque fala de liberdade, do papel da mulher e, claro, da relação entre os sexos. As coisas não mudaram muito desde o romance, que é de 1922, para além do cenário gótico. Emma interpreta uma mente livre que está sempre a experimentar”, diz o realizador.
O filme narra a dramática viagem de autodescoberta e libertação de Bella, um ser puro que desconhece convenções e regras e envolve muito sexo, primeiro com um advogado imoral, interpretado por Mark Ruffalo, e depois com uma sucessão de clientes num bordel de Paris.
A greve dos atores de Hollywood impediu Stone de vir a Veneza para falar sobre o seu papel, mas Lanthimos disse que lamenta que a maioria dos filmes pareça não mostrar sexo hoje em dia.
“Porque é que já não há sexo nos filmes?”, disse. “É uma pena que Emma não possa estar aqui para falar sobre isso, porque é estranho que tudo isso venha de mim”, acrescentou.
O realizador disse aos jornalistas que o filme, baseado no romance homónimo de Alasdair Gray, recorreu à coordenadora de intimidade Elle McAlpine para ajudar os atores nas cenas de sexo. “O seu profissionalismo fez toda a diferença, pôs toda a gente à vontade e criou uma atmosfera confortável”, disse Lanthimos, cujos créditos anteriores incluem “A Lagosta” e “A Favorita”, também protagonizado por Stone.
“O melhor para mim e para a Emma é que já fizemos quatro filmes juntos. Por isso, é possível compreender que existe uma espécie de estenografia”, disse Lanthimos, acrescentando que isso significa que a atriz compreendeu a necessidade das inúmeras cenas de sexo. “Ela disse: ‘sim, claro que percebo. Sabes, é a Bella. Fazemos o que é preciso'”.
“A Emma precisava de não ter vergonha do seu corpo e da nudez quando participava nessas cenas. E compreendeu isso de imediato”, disse Lanthimos.