7 Ago 2019 23:14
No Verão cinematográfico de 2019, o regresso de “Ran – Os Senhores da Guerra” foi um acontecimento realmente à parte. De facto, talvez até nem seja um dos filmes maiores de Akira Kurosawa (é essa, pelo menos, a minha sensação, sobretudo quando o comparamos com clássicos como “Os Sete Samurais” ou “Dersu Uzala”, respectivamente de 1954 e 1975). Mas não há dúvida que por ele passam temas e obsessões vitais no universo do mestre japonês — foi em 1985, tinha Kurosawa 75 anos.
São memórias das guerras internas do Japão, no século XVI, e em particular da figura lendária de Mori Motonari, um senhor feudal. O certo é que Kurosawa não se apoia apenas nos registos históricos do seu pais, cruzando a saga de Motonari com a estrutura de “O Rei Lear”, de William Shakespeare — para o seu impacto trágico é fundamental a banda sonora composta por uma figura lendária da música japonesa: Toru Takemitsu.
“Ran” é um espectáculo de imensos recursos de produção, em particular para figurar as cenas de combate. De alguma maneira, foi o filme anterior de Kurosawa, “Kagemusha – A Sombra do Guerreiro”, lançado em 1980, que lhe permitiu reunir os meios para concretizar “Ran”. Isto porque na difusão internacional de “Kagemusha” tinha sido fundamental o apoio de George Lucas e Francis Ford Coppola — recordemos, a esse propósito, a entrega de um Oscar honorário a Kurosawa, com apresentação de Lucas, precisamente, na companhia de Steven Spielberg.
São imagens de 26 de Março de 1990, da 62ª cerimónia anual da Academia de Hollywood. Os parabéns, cantados directamente do Japão por muitos dos seus colaboradores, justificavam-se porque Kurosawa, três dias antes, tinha celebrado 80 anos. Kurosawa realizou mais dois filmes: “Rapsódia em Agosto”, em 1991, e “Ainda Não”, em 1993 — faleceu a 6 de Setembro de 1998, contava 88 anos.