16 Jul 2021 13:48
Uma segunda Palma de Ouro para o francês Jacques Audiard? Sim, porque não… Seis anos depois de "Dheepan" (sobre um refugiado do Sri Lanka em França), o cineasta francês pode muito repetir a proeza com esse filme magnífico, exuberante, carregado de emoções que é "Les Olympiades".
Estamos perante um belo exercício realista, fotografado a preto e branco. Entenda-se: a pulsação realista não é o resultado "automático" do uso do preto e branco, antes a conjugação de um rigor de mise en scène, atento aos mais discretos e significativos detalhes do quotidiano, com a "respiração" muito própria de cada personagem, seus impasses, acções e revelações.
São quatro os brilhantes actores principais de Audiard: Geneviève Doang, Makita Samba, Noémie Merlant e Jehnny Beth. Habitantes de um conglomerado de Paris, uma espécie de povoação autónoma dentro da grande cidade (de nome "Les Olympiades", precisamente), por eles vão passar as linhas de força fundamentais da ficção: a procura de emprego, os encontros sexuais, a hipótese do amor, enfim, a agitação de um quotidiano marcado por diversas formas de instabilidade…
Audiard não está a fazer um retrato banalmente "sociológico", à maneira de muitas ficções televisivas que partem de pressupostos semelhantes. Aquilo que o mobiliza é o misto de clareza e mistério de cada uma das suas personagens, transformando "Les Olympiades" num dos filmes mais depurados — e, apetece dizer, menos cínicos — entre os vários painéis sociais que têm marcado a competição de Cannes.