23 Nov 2024
O filme Reas, junto a ficção ao documentário para relatar a vida e os sonhos de pessoas que passaram pela prisão.
O trabalho feito nas prisões pela realizadora argentina Lola Arias deu origem ao filme “Reas”, que reinventa o género musical. As personagens, através da dança e das canções, falam das memórias na prisão:
Foi feito com pessoas que passaram muito tempo na prisão, mas que agora estão livres. E no filme eles reconstruíram a sua experiência na prisão.
Mas não é um filme documentário clássico, com entrevistas, ou reconstruções, mas é um filme musical. Tem uma coisa muito especial, no meio das histórias reais dessas pessoas que passaram muito tempo na prisão, elas começam a dançar e a cantar.
Essa mistura de uma coisa muito real, mas também com muita fantasia, muito glamour, que vem do lado musical, cria um objeto artístico bastante particular.
O guião foi escrito a partir das histórias de vida de pessoas que cumpriram penas e que participaram nos workshops orientados pelo cineasta. A rodagem de “Reias” foi feita numa prisão desativada perto de Buenos Aires:
O filme foi rodado numa prisão que já não funciona mais. Uma prisão que está desativada. Então, o espaço é real, mas não está em funcionamento. E elas estivaram na prisão, mas agora estão fora.
Por isso, é muito real, mas o grupo que faz o filme esteve, em distintos momentos, em distintas prisões.
É um grupo criado pelo filme e eu fiz o guião baseado nas histórias delas, mas há uma construção ficcional, um guião que faz com que todas essas histórias se cruzem no mesmo momento, mas elas, na verdade, não estiveram presas ao mesmo tempo.
Arias quis realizar um filme sobre uma prisão de mulheres para combater a estigmatização. Com esse fim em vista, idealizou um filme de amor que mostrasse os sonhos de quem está detido e as relações de amor e amizade que se podem estabelecer nas prisões:
O que queremos mostrar com esse filme? É um filme de amor, mas não um filme de amor romântico, somente entre a protagonista que entra na prisão e o homem trans que está dentro.
É um filme de amor porque mostra que todas as relações dentro da prisão são relações muito importantes para as pessoas, que são essas relações que fazem com que as pessoas consigam sobreviver na prisão.
Quando a Jocelyn, que é a protagonista do filme, entra na prisão, o Nacho, o homem trans, diz-lhe, você quer ser parte da nossa família? Essa primeira apresentação fala de que para sobreviver lá dentro você tem de pertencer a uma comunidade, senão vai ficar sozinha.
Foi recriada no filme a banda de música que já existia no estabelecimento prisional. Lola Arias escreveu as letras das canções e inspirou-se nas histórias que contaram:
As músicas foram escritas por mim em colaboração com dois músicos, mas baseadas nas histórias que elas contaram. E elas foram muito parte dessas conversas para escrever as músicas.
No final era eu que escrevia, mas baseada nas conversas e nas coisas de que elas queriam falar. Porque elas já tinham uma banda na prisão.
No filme, a banda também fala dessa comunidade, dessa relação entre elas.
A seguir ao filme, Lola Arias fez uma peça de teatro com as mesmas personagens e atores.
No LEFFEST, a cineasta argentina revelou que a peça vai estar em cena no Porto e está à espera de convite para Lisboa:
A peça de teatro é a segunda parte do filme e fala da liberdade, o que acontece quando essas pessoas saem da prisão e como reconstroem as suas vidas, como encontram trabalho, como fazem para reconstruir as relações com a família. O filme é o passado e a peça de teatro é o presente deles.
Estreou em Buenos Aires e agora estou a mostrá-la na Europa. Estamos ainda à procura de um teatro de Lisboa que possa mostrar a peça. Mas já sabemos que a peça vai estrear no Porto em abril do ano que vem, no Teatro Rivoli.
“Reas” é um filme de sonhos e de esperança de quem tem um passado de vida na prisão.
Estreia esta semana nas salas portuguesas.