12 Mai 2018 23:23
No plano da construção narrativa, o novo filme do chinês Jia Zhang-ke, "Ash Is Purest White", ficará, por certo, como um dos mais ambiciosos desta 71ª edição do Festival de Cannes. Através da atribulada relação de um homem e uma mulher — Bin (Liao Fan) e Qiao (Zhao Tao) —, trata-se de construir, não apenas um ensaio sobre a fragilidade dos laços humanos, mas também um fresco de mais de uma década da história da China.
Em boa verdade, a acção desenrola-se de 2001 até à chegada de 2018, seguindo os encontros e desencontros do par. Mais exactamente, Qiao salva Bin, um gangster de Datong, disparando vários tiros quando ele atacado por membros de um gang rival; condenada a cinco anos de prisão, Qiao fará tudo para reencontrar Bin [fragmento do filme], ao mesmo tempo que o filme vai coleccionando sinais das transformações da China, em particular a construção da gigantesca barragem do Yang-Tze, a maior do mundo…
Dir-se-ia que é muito para fazer um filme — e, a certa altura, parece pouco… Apesar de tudo, em títulos anteriores como "Plataforma" (2000), "O Mundo" (2004) ou "Se as Montanhas se Afastam" (2015), Jia Zhang-ke conseguia um equilíbrio mais eficaz entre a dimensão colectiva e as convulsões particulares das personagens. Desta vez, sem prejuízo de reconhecer a energia e a ambição do projecto, fica-se com a sensação que há cenas concebidas apenas para "ilustrar" temas mais ou menos genéricos.
Sublinhe-se, em todo o caso, a continuada importância do trabalho dos actores no universo de Jia Zhang-ke. O destaque vai, inevitavelmente, para Zhao Tao, musa do cineasta e sua mulher na vida real. A capacidade de transfiguração da actriz acontece, uma vez mais, através de muitos silêncios e subtis sugestões psicológicas — este é o oitavo filme em que colaboram.