20 Jan 2016 20:16
A notícia da morte de Ettore Scola relança-nos num tempo de profundas transformações, não apenas do cinema italiano, mas da maior parte das cinematografias europeias. Ele foi, afinal, um dos casos mais eloquentes de uma estética realista, "social" antes do mais, apostada em dar conta das transformações dos modos de vida do cidadão comum — paradoxalmente, tal atitude conduziu-o, a certa altura, a um gosto especial pelos artifícios do espectáculo e também pela nostalgia cinéfila.
Eis cinco referências importantes do trajecto criativo de Scola:
* A ULTRAPASSAGEM (1962) — É um filme em que ele participa ainda apenas como argumentista, pertencendo a realização a Dino Risi: através do retrato de dois homens em viagem (Vittorio Gassman e Jean-Louis Trintignant), somos levados a descobrir as ilusões e equívocos da "sociedade de consumo".
* FEIOS, PORCOS E MAUS (1976) — Talvez não seja dos melhores filmes de Scola, mas não há dúvida que se trata do que mais projectou o seu nome: um retrato cruel, cruelmente sarcástico, de uma família de uma bairro de lata em que já não há lugar para nenhuma utopia social, muito menos qualquer redenção moral.
* UM DIA INESQUECÍVEL (1977) — Com notáveis
interpretações de Marcello Mastroianni e Sophia Loren, uma crónica delicada da convivência de duas personagens solitárias, num bairro de Roma, tendo por pano de fundo uma recepção de Benito Mussolini a Adolf Hitler — também por isso, uma brilhante reconversão dos modelos tradicionais de "reconstituição" histórica [cena].
interpretações de Marcello Mastroianni e Sophia Loren, uma crónica delicada da convivência de duas personagens solitárias, num bairro de Roma, tendo por pano de fundo uma recepção de Benito Mussolini a Adolf Hitler — também por isso, uma brilhante reconversão dos modelos tradicionais de "reconstituição" histórica [cena].
* O BAILE (1983) — Porventura o mais ousado trabalho de Scola, revisitando uma parte do século XX italiano através de uma série de cenas num mesmo salão de baile — é um filme literalmente dançado em que as convulsões sociais e as mudanças de comportamentos se expõem através do impulso da música.
* QUE ESTRANHO CHAMAR-SE FEDERICO (2013) — Documentário sobre Federico Fellini que se confunde com uma evocação comovida de um amigo; em boa verdade, pode dizer-se que ficou como testemunho e testamento da sensibilidade de um criador que sabia que a "idade de ouro" do cinema italiano há muito passou para o domínio da nostalgia [trailer].