16 Jul 2021 2:37
O americano Sean Baker é um cineasta do pitoresco. Mesmo nos seus melhores momentos (penso, sobretudo, em "The Florida Project", 2017), as suas tentativas de criar personagens originais ficam sempre limitadas pelo misto de caricatura e menosprezo com que os filmes envolvem as suas acções.
"Red Rocket", na competição de Cannes, é a penosa confirmação disso mesmo. A história do actor de filmes pornográficos (interpretado por um verdadeiro actor de filmes pornográficos: Simon Rex) que regressa às suas origens de miséria, no Texas, limita-se a coleccionar situações mais ou menos patéticas, tratadas como "quadros vivos" de um universo reduzido a clichés "sociológicos" — incluindo o por do sol sobre o horizonte dos grandes aparatos industriais…
Os actores são, todos eles, um desastre, dirigidos apenas para tentar fingir que o "overacting" pode ser um método consistente de criar personagens. Isto sem esquecer a agitação de uma câmara que, em boa verdade, não revela qualquer noção de espaço, muito menos de elaboração do tempo dramático… Que está isto a fazer em Cannes? — eis a questão.