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Ser ou não ser Grace Kelly
"Grace do Mónaco", evocando Grace Kelly, abriu oficialmente (extra-competição) o Festival de Cannes: um retrato íntimo, dramaticamente desigual, que vale, sobretudo, pela composição central de Nicole Kidman.
14 Mai 2014 17:35
Escolhido para abertura oficial de Cannes 2014, fora de competição, "Grace de Mónaco", de Olivier Dahan, surgiu assombrado por alguns factos recentes, com especial impacto mediático: por um lado, os descendentes da princesa do Mónaco emitiram um comunicado demarcando-se da sua visão e daquilo que consideram os seus "erros" históricos; por outro lado, Harvey Weinstein, distribuidor do filme nos EUA, assumiu que não gostava da montagem do realizador, ameaçando não o difundir (soube-se, entretanto, que esta divergência foi superada).
O certo é que os problemas de "Grace de Mónaco" estão nas suas próprias opções narrativas e dramáticas, não exactamente nas atribulações que o têm envolvido. Digamos que Dahan tentou fazer algo semelhante ao que consumara em "La Vie en Rose" (2007), sobre Edith Piaf, com Marion Cotillard. A saber: um retrato pessoal de alguém que tem de encontrar um equilíbrio entre os seus valores mais íntimos e as componentes da sua vida pública.
Para isso acontecer, seria necessário, no mínimo, conferir a todas as personagens que envolvem Grace Kelly — desde o príncipe Rainier (Tim Roth) a Maria Callas (Paz Vega), passando por Alfred Hitchcock (Roger Ashton-Griffiths) — uma intensidade psicológica, e até simbólica, idêntica à que emana da esplendorosa solidão da figura central.
Que resta então? Um belo tour de force de Nicole Kidman, compondo a estrela de Hollywood que, ao tornar-se princesa do Mónaco, tem de enfrentar um turbilhão de exigências e protocolos que, de uma maneira ou de outra, a vão obrigar a (re)avaliar as suas opções familiares e institucionais. É uma aventura humana delicada e contagiante, mas o filme deixa a sensação de ter ficado aquém da grandeza que a sua personagem exigia.
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