13 Mar 2025

“Siga a Banda!” cruza uma orquestra sinfónica e uma fanfarra. São duas realidades musicais distintas que unem dois irmãos, separados desde pequenos. O filme “Siga a Banda!” segue a linha cinematográfica de Emmanuel Courcol, realizador de “A Noite do Triunfo”, que recebeu o troféu de melhor comédia nos prémios do cinema europeu.

O cineasta francês interessa-se por mostrar realidades sociais opostas. É uma tendência que vem desde o primeiro filme que realizou:

Sempre me interessei por conhecer pessoas de diferentes origens sociais e culturais e quis explorar isso em cada um dos meus filmes. No meu primeiro filme, que foi uma curta-metragem, temos um homem e uma mulher que vêm de meios muito diferentes e que já tinham um confronto com a música.

O meu interesse por uma banda filarmónica pareceu-me ser um ponto de partida para poder confrontar este ambiente social e musical com o oposto, ou seja, com as grandes músicas, as grandes orquestras sinfónicas, o mundo dos maestros, etc.

Depois o encontro de irmãos, porque era interessante poder medir a diferença entre os dois destinos devido à diferença ligada à adoção. Eles foram adotados por pessoas de meios diferentes, pelo que, obviamente, os seus destinos são diferentes.

As personagens principais de “Siga a Banda!” são dois irmãos cujos percursos pessoais e profissionais são o resultado de contextos sociais e culturais diferentes. Emmanuel Courcol aponta-os como um exemplo de determinismo social que condiciona no que uma pessoa se torna:

Aquilo a que chamamos determinismo social: a educação, a família, a escolaridade, a cultura da família e o ambiente social com as ambições que temos ou que não temos, é o essencial.

Aqui temos dois irmãos que, à primeira vista, teriam as mesmas capacidades musicais, o mesmo talento, mas que, obviamente, não o exploram da mesma maneira.

Num caso, ganhar a vida com a música não é uma opção, está ainda mais longe de pensar que pode fazer carreira numa orquestra profissional, sinfónica.

Quanto ao outro, há uma cultura familiar. Aos três anos foi aprender a tocar piano e depois as coisas seguiram naturalmente.

Thibaut é um maestro de renome. Fica doente e precisa de um transplante. É quando descobre que foi adotado e que tem um irmão, o Jimmy. Este toca trombone e rege uma banda filarmónica no norte de França. Este encontro vai transformar a vida dos dois. É uma mudança ao ritmo de músicas, com compassos diferentes:

A personagem Jimmy, quando conhece o irmão, tem plena consciência da diferença, da sorte que tiveram. Não se atreve a revelar que é músico. Pensa que não vale muito em comparação com a carreira de sucesso do irmão e não se atreve a dizê-lo. É aí que entra a relação de classe, a vergonha e a falta de autoconfiança. Depois, a relação entre irmãos é, diria eu, o fio condutor da história. Também me interessava ver como se construia a relação entre os irmãos, e como tenta recuperar o tempo perdido pela separação quando eram pequenos.

O realizador usou uma verdadeira orquestra sinfónica e uma banda filarmónica real:

Filmei com uma verdadeira fanfarra que já tinha conhecido anteriormente. Eles estavam interessados, por isso eles são a maioria da banda. Também coloquei alguns em papéis secundários dentro da banda que também têm de tocar, são atores profissionais que também são músicos, misturei-os para que não se possa distinguir entre profissionais e amadores.

Na parte musical sinfónica, recorremos a uma orquestra, a Scoring Orchestra, que trabalha muito para o cinema, toca muitas bandas sonoras e músicas de filmes. Portanto, foi uma colaboração com eles, e também com maestros, com um conselheiro musical. Tentamos ser muito credíveis em ambos os aspetos do filme.

Benjamin Lavernhe e Pierre Lottin interpretam os irmãos Thibault e Jimmy. Um é chefe de orquestra, o outro chefe de uma fanfarra. Pierre Lottin é o irmão mais novo, Jimmy, uma personagem que cresceu no meio rural e mineiro e coloca o talento para a música em prática numa banda de província:

Eu sou Jimmy, o irmão mais novo de um grande maestro de orquestra que tem uma doença e vai precisar de um transplante de medula óssea. Quando pede ajuda à família, apercebe-se de que, na realidade, foi adotado, porque ninguém é compatível. Por isso, vai à procura do verdadeiro irmão, interpretado por mim.

O Jimmy é um tipo um pouco calado, que teve uma vida um pouco difícil, mas que tem esta paixão pela música e também tem um ouvido absoluto, como o seu irmão mais velho.

Para Pierre Lottin, a personagem de Jimmy é um exemplo de como o meio social limita as oportunidades:

Apesar do talento e de ter um ouvido absoluto, o meio onde cresceu não lhe permitiu chegar mais longe. Jimmy foi colocado numa instituição aos 13 anos, quando a mãe morreu, e depois foi para uma família de acolhimento, ao contrário do irmão mais velho, que foi adotado.

Quando não se parte da mesma base, não se têm as mesmas hipóteses. Pura e simplesmente. Não temos as mesmas oportunidades. Não conhecemos as mesmas pessoas, não frequentamos as mesmas escolas, não temos os mesmos problemas. Se calhar até temos muito mais problemas quando começamos de baixo, e por isso temos menos tempo para sonhar.

No filme “Siga a Banda!” o ator toca trombone no filme. Teve aulas para aprender e os conhecimentos de piano adquiridos na infância ajudaram a preparar a personagem:

Toquei trombone no filme, tive de aprender. Demorei 3 meses a aprender o básico. Essa foi a parte principal da preparação. Toco piano há 30 anos e isso ajudou-me com o trombone. Tive a sorte de ter aprendido a tocar piano numa idade muito jovem. Como resultado, foi mais fácil aprender a tocar trombone.

O mesmo se aplica às oportunidades na vida. Tive a sorte de saber tocar piano, por isso agora é mais fácil fazer música.

“Siga a Banda!” foi apresentado no Festival de Cinema de Cannes e um sucesso na bilheteira francesa. Chega esta semana aos cinemas portugueses.

  • Margarida Vaz
  • 13 Mar 2025 20:24

+ conteúdos