21 Mai 2024
Com “The Shrouds”, apresentado na competição em Cannes, o ator francês Vincent Cassel reúne-se pela terceira vez com o realizador David Cronenberg, 81 anos, que considera “uma espécie de pai”.
Cassel, 57 anos, interpreta Karsh, um magnata da tecnologia que, após a morte da esposa, desenvolve o que acredita ser uma invenção revolucionária: um lençol mortuário interligado e equipado com câmaras que permite aos familiares manterem contacto visual com os entes queridos falecidos.
A personagem espelha-se na do realizador canadiano de “Crash” (1996), que filmou este thriller aos 81 anos, ele próprio assombrado pela morte da mulher, com quem viveu 43 anos.
“Rapidamente, (Cronenberg) disse-me que a personagem seria o seu alter ego”, explica Cassel, cuja semelhança com o realizador no ecrã é por vezes estranha.
No entanto, “não fiz nenhum trabalho para me parecer com ele. Deixei crescer o cabelo e quando cheguei, simplesmente aconteceu”, acrescenta.
“Há uma relação paternal” com David Cronenberg, disse à AFP o ator, que já participou em “Promessas Perigosas” (2007) e “Um Método Perigoso” (2013).
“Só trabalhei com tipos da minha idade até à morte do meu pai, o ator Jean-Pierre Cassel, em 2007”, continua.
“Quando o meu pai morreu, foi a primeira vez que trabalhei com pessoas da sua geração, incluindo Cronenberg”.
“Quando Vincent saiu pela primeira vez do camarim, fiquei chocada com a sua semelhança com o realizador”, confirma a atriz alemã Diane Kruger, 47 anos.
Neste filme, rodado em inglês, Kruger interpreta a mulher morta com o corpo em decomposição que volta para assombrar o viúvo, mas também a sua irmã, e inspira o avatar da aplicação de inteligência eletrónica que guia o herói.
“Nas cenas mais chocantes e íntimas, eu via David” em vez do ator, confessa.
Selecionado para concorrer à Palma de Ouro, “The Shrouds” conta a história da investigação paranoica de Karsh sobre a profanação do seu cemitério tecnológico. Evoca também a conspiração e a influência da tecnologia nas nossas vidas e não só.
“David Cronenberg é um geek total”, diz Vincent Cassel: “Muitas pessoas não suportam deixar os entes queridos numa caixa, sozinhos… (A personagem) leva isso à letra e consegue encontrar uma solução para lidar com o insuportável”.