20 Mai 2024

A popular atriz americana dos anos 90, Demi Moore protagoniza a sua primeira longa-metragem em Cannes, “The Substance”, um filme de terror feminista da realizadora francesa Coralie Fargeat, apresentado em competição.

“É o início de um terceiro ato na carreira de Demi, e é inspirador”, resumiu o seu parceiro no filme, o americano Dennis Quaid, numa conferência de imprensa na segunda-feira.

A “substância” do título permite que a pessoa que a injeta produza uma “melhor versão de si mesma, mais jovem, mais bonita, mais perfeita”.

Para Elisabeth Sparkle, uma celebridade do fitness televisivo atirada para o desemprego aos 50 anos (interpretada por Demi Moore, deslumbrante ao envelhecer artificialmente), a tentação é grande. E assim “nasce” o seu avatar Sue (a americana Margaret Qualley, tão convincentemente angelical como demoníaca), para seguir as suas pisadas contra um produtor grosseiro que encarna o patriarcado (Dennis Quaid).

A única condição para não se colocarem em perigo é que ambas dividam igualmente o seu tempo no mundo exterior. Mas Sue quer sempre mais…

Após ter realizado o seu primeiro filme de terror sobre a violação (“Revenge”, em 2018), Coralie Fargeat volta desta vez a sua atenção para o corpo feminino, “problemático quando se é mais jovem, quando não é perfeito ou é demasiado grande, e depois quando envelhece”.

“Tem um impacto enorme na vida das mulheres e condiciona tantas coisas na sociedade. O nosso corpo define-nos e gera desigualdade e violência, incluindo da nossa parte. Somos quase obrigadas a odiá-lo, de uma forma, ou de outra, e pode tornar-se o nosso principal instrumento de tortura”, afirma a realizadora de 48 anos.

O filme ilustra o seu ponto de vista “hiperbolicamente” com agulhas e sangue, “símbolos da violência que temos de suportar enquanto mulheres”.

Os efeitos visuais meticulosos, as explosões sangrentas – por vezes doentias, por vezes cómicas – e as atrizes, carregam “The Substance”.

“Foram incríveis, correram muitos riscos”, diz a realizadora. “Sente-se que o filme é corporizado, que algo aconteceu entre elas. Quanto a Demi Moore, “o que acho fantástico é que ela não teve medo de se revelar ou de ser ridicularizada. Foi um salto para o desconhecido e ela foi em frente, não desistiu”.

“Queremos ser amados”

Porque vai uma realizadora francesa, ambientar o seu enredo numa Hollywood fictícia e filmar em França, mas em inglês, com estrelas americanas?

Porque os Estados Unidos, mais do que a França, têm “esta cultura dos filmes de género, do excesso, do não-realismo”, com a qual Coralie Fargeat “cresceu”.

Foram os filmes de género que “lhe deram vontade de fazer cinema”, primeiro oferecendo-lhe “uma fuga ao quotidiano”, depois permitindo-lhe, como realizadora, “criar os seus próprios códigos” e desenvolver a dimensão artesanal que aprecia.

E é bom que Cannes não tenha sido insensível nos últimos tempos aos filmes de terror que abordam a feminilidade, como “Titane”, de Julia Ducournau, vencedor da Palma de Ouro em 2021.

Será que Coralie Fargeat está a fantasiar com o mesmo destino? “É obviamente algo com que sonhamos, a mais bela das recompensas. É também disso que trata o filme: queremos ser amados”, responde.

“Depois disso, sabemos que não está nas nossas mãos. Estar aqui já é uma notícia maravilhosa. Mas é claro, ficaria mais feliz se o filme fosse notado”, disse em declarações à AFP.

 

“Vulnerabilidade total”

A estrela de cinema Demi Moore disse que a vulnerabilidade exigida para o seu papel em”The Substance”, foi, ao mesmo tempo, exigente e excitante.

O papel exigiu que Moore, de 61 anos, ficasse completamente nua e se transformasse numa mulher idosa em processo de envelhecimento por meio de próteses. “Tudo isso, em alturas diferentes, envolveu momentos desafiantes”, disse em entrevista à Reuters.

“O nível de vulnerabilidade que este papel exigia a todos os níveis – emocional, físico – era tão exigente como excitante, porque me obrigava a sair da minha zona de conforto”, disse Moore.

O festival deste ano marca a primeira vez em mais de um quarto de século que Moore, que se tornou um símbolo sexual com filmes como “Striptease” nos anos 90, esteve no festival.

Para Qualley, 29 anos, o facto de retratar a chamada versão perfeita do corpo de uma mulher foi uma experiência estranha. “Ela deveria ser perfeita, mas é provavelmente a personagem menos bonita que já interpretei, porque não tem coração”, disse.

  • CINEMAX - RTP c/ AFP e Reuters
  • 20 Mai 2024 17:44

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