Uma arqueologia das relações humanas
O realizador finlandês Juho Kuosmanen foi à Rússia filmar a história de uma mulher à procura de memórias arqueológicas: "Compartimento nº 6" é um conto moral que está na competição de Cannes.
Em boa verdade, o filme pode definir-se como uma crónica romanesca dessa viagem, em grande parte vivida no compartimento/cama que o título refere. Acontece que Laura tem que partilhar o espaço com Ljoha (Yuri Borisov), um russo que vai para o mesmo destino, misturando o seu desencanto pelo trabalho que vai assumir com doses pouco moderadas de álcool… Ou como as relações humanas envolvem sempre um misto de consciência prática e arbitrariedade existencial.
"Compartiment nº 6" ilustra um dispositivo muito na moda, não poucas vezes limitado por estereótipos dramáticos e morais. A saber: a personagem que se desloca para um destino precário, na sua odisseia sendo compelida a reavaliar toda a sua história pessoal… Felizmente, neste caso, Kuosmanen tem o bom senso de preferir as singularidades da própria viagem a qualquer sobrecarga "simbólica", produzindo um conto moral sempre em aberto, incerta e envolvente — sem esquecer a fundamental contribuição dos dois intérpretes principais.
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