23 Mai 2015 1:09
É sempre bom encontrar um filme que se revela capaz de reflectir sobre temas que sentimos envolvidos com a nossa actualidade e, em particular, com questões fracturantes das nossas sociedades. É o caso de "Chronic", do mexicano Michel Franco (vencedor do prémio "Un Certain Regard", em 2012, com "Después de Lucía").
"Chronic" tem a ver com um universo muito peculiar, tanto do ponto de vista clínico, como em termos sociais: o dos doentes com doenças crónicas, em situação terminal. Com uma componente que é decisiva para o seu funcionamento dramático: a acção é construída, não a partir do olhar dos pacientes, mas sim do ponto de vista de David, um homem especializado em acompanhar esses pacientes no seu dia a dia.
Estamos, assim, perante uma intimidade carregada de silêncios: David tem de assistir as pessoas nas situações mais extremas, envolvendo o desgaste do corpo e, por vezes, a reflexão amarga sobre o seu próprio destino. Daí o tom desconcertantemente contemplativo de "Chronic": David sabe como agir, mesmo face aos eventos mais difíceis, mas sabe também dos limites drásticos da sua acção.
Filmando com uma austeridade fina, nunca sublinhando os efeitos dramáticos nem forçando derivações moralistas, Michel Franco tem um aliado de peso no actor Tim Roth, intérprete de David — ele consegue, afinal, colocar em cena a tensão interior de um homem que vive, por assim dizer, por delegação do estado de saúde das pessoas que acompanha.