Rodagem de

13 Abr 2017 2:50

Felizmente, alguns distribuidores e exibidores continuam a não desistir de dar a ver filmes em reposições. Mais do que isso: ao longo dos últimos anos, temos tido alguns eventos (isolados ou com características de ciclo) que nos permitiram reencontrar grandes clássicos da história do cinema, quase sempre em cópias restauradas de grande qualidade — é o que volta agora a acontecer com a obra do mestre japonês Kenji Mizoguchi (1898-1956).

Teremos, assim, uma "temporada" (proposta pela Leopardo Filmes) com nove títulos.
A exibição dos filmes de Mizoguchi começa hoje, quinta-feira, dia 13, em Lisboa (Nimas), com "Contos da Lua Vaga" (1953), "Os Amantes Crucificados" (1954) e "A Mulher de Quem se Fala" (1954), este último comercialmente inédito. A partir de 11 de Maio, surgirão mais duas reposições — "O Conto dos Crisântemos Tardios" (1939) e "Rua da Vergonha" (1956) —, a par de "Festa em Gion" (1953), "A Senhora Oyu" (1951), "O Intendente Sansho" (1954), e "A Imperatriz Yang Kwei Fei" (1955), também nunca lançados em salas comerciais. Nessa data, o ciclo arranca no Porto (Teatro Municipal do Campo Alegre), repetindo-se em Coimbra, Braga, Setúbal e Figueira da Foz.

 

Estamos, enfim, perante um grande acontecimento, permitindo-nos confirmar, não apenas Mizoguchi, mas também a memória clássica do cinema japonês como essencial na dinâmica da história dos filmes — em particular nas transformações que se seguiram à Segunda Guerra Mundial. Mizoguchi foi mesmo um artista que soube observar, com especial acutilância crítica, a coexistência dos novos valores da sociedade japonesa com as múltiplas heranças do Japão mais tradicional.

São estes os primeiros três filmes a (re)descobrir:

* CONTOS DA LUA VAGA (1953): por certo o mais internacional dos filmes do autor — uma história de amores violentos no contexto agitado do séc. XVI, exemplificando a sábia coabitação do realismo mais cru com um apelo fantasmático (apresentado em cópia restaurada, 4K).
* OS AMANTES CRUCIFICADOS (1954): tragédia de amor e ciúme, encenada com uma precisão obsessiva, capaz de lhe conferir o poder de revelação de tudo o que no comportamento humano é do domínio do invisível — apresentado em Cannes/1955, foi um título decisivo para o (re)conhecimento internacional de Mizoguchi.
* A MULHER DE QUEM SE FALA (1954): um drama íntimo, por vezes contaminado por uma cruel ironia, sobre as relações entre mãe e filha — a primeira proprietária de uma casa de gueixas, a segunda recuperando de uma tentativa de suicídio. Na sua contundência social e emocional, este inédito no circuito comercial português será, por certo, para muitos, uma das maiores revelações deste ciclo. 
  • cinemaxeditor
  • 13 Abr 2017 2:50

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