07 Ago 2023

William Friedkin, que alcançou a imortalidade cinematográfica ao realizar o sombrio e corajoso thriller de 1971 “Os Incorruptíveis contra a Droga” e o aterrorizante sucesso de bilheteira de 1973 sobre possessões demoníacas “O Exorcista”, morreu segunda-feira aos 87 anos, noticiou a Variety.

A Variety disse que o cineasta morreu em Los Angeles, citando um amigo da esposa de Friedkin. Não foram divulgados mais pormenores.

Friedkin começou o percurso como realizador com a comédia musical “Good Times”, de 1967, com o duo pop Sonny e Cher, e passou o resto da sua carreira a criar algumas das imagens mais perturbadoras, violentas e controversas da história do cinema.

“The French Connection” ganhou cinco Óscares da Academia, incluindo o de melhor filme, melhor realizador para Friedkin e melhor ator para Gene Hackman, que Friedkin inicialmente não queria no memorável papel do detetive dos narcóticos de Nova Iorque, Popeye Doyle.

Nomeado para 10 Óscares da Academia, incluindo o de melhor filme e melhor realizador, “O Exorcista” chocou os cinéfilos e ofendeu algumas pessoas com a história sem rodeios de uma inocente rapariga de 12 anos, interpretada por Linda Blair, que se submete a um angustiante exorcismo católico romano para a libertar da possessão por um demónio. Fenómeno cultural e um dos filmes de maior bilheteira de todos os tempos, ajustado à inflação, foi aclamado por alguns como o melhor filme de terror alguma vez feito.

“Os meus filmes sempre foram um estudo do comportamento humano nos seus extremos”, disse Friedkin a Tom Huddleston, em 2012. “Não se destinam a jovens, destinam-se a adultos. Haverá alguma linha que eu não ultrapasse? … Não sei”.

Friedkin continuou a fazer outros filmes, mas nenhum atingiu o nível de sucesso dos seus dois grandes triunfos.

Outros esforços dignos de nota incluíram o thriller criminal de 1985 “To Live and Die in L.A.”, protagonizado por William Petersen e Willem Dafoe, “Bug”, com Ashley Judd, de 2006, e a comédia negra de 2011 “Killer Joe”, protagonizada por Matthew McConaughey.

Detractores consideravam-no um rufia arrogante e de temperamento explosivo e apelidaram-no de “Furacão Billy”. Friedkin admitiu que tinha um sentimento de arrogância após ter assinado dois dos filmes mais marcantes da década de 1970.

Em “The French Connection”, os polícias interpretados por Hackman e Roy Scheider, na decadente Nova Iorque do início dos anos 70, seguem um traficante de heroína francês. O filme, filmado quase num estilo documental, é cru, violento e cínico, com polícias brutais que mal se distinguem dos maus da fita.

Contém também uma das maiores sequências de perseguição do cinema, envolvendo a personagem de Hackman e uma linha de comboio elevada.

 

Atos horrendos

Friedkin fez um grande esforço para dar a “O Exorcista” – baseado no romance de William Peter Blatty – um ambiente desolador. Para obter reacções genuínas no filme, esbofeteou e assustou atores com disparos de armas de fogo. Também refrigerou o cenário para tornar a respiração dos atores visível no filme.

Friedkin fez com que Blair, nomeada para um Óscar pela espantosa interpretação da rapariga possuída, realizasse actos horríveis. A sua personagem urina e vomita. Ela levita e a sua cabeça gira. Masturba-se com um crucifixo. Com a voz grave da atriz Mercedes McCambridge a gravar as frases do demónio que emanam da rapariga, a jovem profere os mais terríveis palavrões.

“Pessoalmente, acredito que dentro de cada um de nós existem estas forças do bem e do mal em constante luta pelas nossas almas”, disse Friedkin em 2012. “Todos temos um lado negro e todos temos um lado melhor. ‘O Exorcista’ é uma metáfora para isso.”

Friedkin teve uma série de fracassos após o “O Exorcista”. O thriller de ação “Sorcerer”, com Roy Scheider, o seu filme seguinte, foi um fracasso em 1977, tal como a comédia “The Brink’s Job” em 1978.

Outro espetacular fracasso apareceu em 1980 com “Cruising”, onde Al Pacino interpretou o papel de um polícia que se embrenha na subcultura gay de Nova Iorque no encalço de um assassino em série. Os activistas gays consideraram o filme homofóbico e este afundou-se numa tempestade de má publicidade.

William David Friedkin nasceu a 29 de agosto de 1935 e cresceu em Chicago, filho de imigrantes ucranianos pobres. Sem poder pagar a faculdade, o jovem cinéfilo trabalhou na sala de correio de uma estação de televisão de Chicago depois do liceu e depressa começou a dirigir espectáculos ao vivo.

Aperfeiçoou as suas capacidades na realização de documentários. Um deles, em 1965, ajudou a comutar a pena de morte de um assassino condenado. Também abriu as portas para o primeiro emprego de Friedkin em Hollywood.

Friedkin sofreu um ataque cardíaco em 1981, que mais tarde atribuiu ao seu gosto por pizza e cachorros-quentes.

Casou-se com a atriz convertida em chefe de estúdio Sherry Lansing em 1991, depois de uma sucessão de casamentos falhados com as actrizes Jeanne Moreau e Lesley-Anne Down e com a apresentadora Kelly Lange.

  • CINEMAX - RTP c/ REUTERS
  • 07 Ago 2023 20:01

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