19 Mai 2023 12:48
Apresentado quarta-feira fora de competição, “Anselm” não é um documentário no sentido estrito do termo, mas antes “um objecto experimental” sobre a obra do seu compatriota Anselm Kiefer, uma das estrelas da arte contemporânea, declarou em entrevista à AFP.
Tal como no filme sobre a coreógrafa Pina Bausch (2011), Wim Wenders, 77 anos, conhecido pelas suas experiências cinematográficas desde os anos 60, utilizou o 3D para concretizar o projecto.
“O 3D é um meio imersivo que nos permite aproximar da pessoa que vemos no ecrã. Há algo de emoção, de sentimento”, afirma num francês quase perfeito.
Estamos no meio de uma experiência”, entusiasma-se. É muito importante psara compreender o trabalho de Anselmo.
Para além das longas-metragens (“Alice nas Cidades” em 1974, “Asas do Desejo” em 1987…) que o tornaram uma lenda do cinema mundial, filmando tanto em Hollywood como em Tóquio ou Paris, Wim Wenders, que venceu o festival em 1984 com “Paris, Texas”, nunca desistiu dos documentários, tendo realizado um total de dez.
À descoberta de novas linguagens
Respondeu afirmativamente quando a AFP lhe perguntou se este género é o futuro do cinema. “O futuro está na narrativa livre, porque no cinema narrativo, no cinema de ficção, as receitas são sempre as mesmas, as mesmas fórmulas. No documentário, posso trabalhar livremente”.
A ficção não continua a ter mais prestígio do que o documentário? Dos dois filmes apresentados em Cannes, o que está a concorrer à Palma de Ouro é o seu drama japonês “Perfect Days”.
“Os grandes festivais colocam cada vez mais documentários em competição, embora durante muito tempo se tenha perguntado como poderia um júri escolher entre uma ficção e um documentário. É muito diferente”, observa.
Este ano, o Festival de Cannes optou por colocar em competição o documentário “Youth”, do realizador chinês Wang Bing (“The Gap”, 2012).
Em Setembro passado, o documentário sobre o flagelo dos opiáceos – ” Toda a Beleza e a Carnificina”, da americana Laura Poitras – ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza. Alguns meses mais tarde, a Berlinale seguiu o exemplo e atribuiu um Urso de Ouro ao documentário “Sur l’Adamant”, do francês Nicolas Philibert.
“Devo dizer que, para mim, os documentários são mais livres do que os filmes de ficção, mais aventureiros”, insiste Wim Wenders.
A experimentação e a procura de novas formas de narração são duas obsessões que continua a ter. “Gosto que cada filme encontre uma nova linguagem”, diz.
“Faço filmes porque não sei como os fazer. Se soubesse como os fazer, parava. No caso de “Anselm”, não tinha ideia de como o fazer, mas acabámos por arranjar uma linguagem adequada”.
E que tal uma incursão no virtual? ” O virtual não é, de facto, uma linguagem. Está lá para mostrar, mas não conta uma história”, garante, confidenciando, no entanto, que está “a preparar um filme de ficção científica”, onde “a inteligência artificial terá um papel importante”.
Mas, avisa, “usar a inteligência artificial como um meio, não vejo qual é o interesse”.