joao lopes
2 Jul 2015 15:26

É bem verdade que os policiais sobre os circuitos da droga se transformaram numa espécie de "género-dentro-de-outro-género", nem sempre com resultados muito interessantes. O exemplo de "A Rede do Crime", produção francesa dirigida por Cédric Jimenez, é tanto mais curioso quanto, para além de saber escapar a uma certa rotina televisiva, consegue reactualizar memórias que são, de uma só vez, históricas e cinéfilas.

Em cena estão as atribulações judiciais, policiais e políticas que, no começo da década de 1970, agitaram a sociedade francesa — em jogo estava o trabalho do juiz Pierre Michel, tentando levar a tribunal os responsáveis por um cartel de droga, "French Connection", a operar a partir de Marselha. O primeiro retrato cinematográfico desta conjuntura remonta a 1971, num filme intitulado precisamente "The French Connection" (entre nós chamado "Os Incorruptíveis contra a Droga"), dirigido por William Friedkin, com Gene Hackman como intérprete principal — eis os trailers dos dois filmes.






O mérito principal do filme de Jimenez consiste em contornar qualquer facilidade "simbólica", ainda menos qualquer efeito de "tese", procurando antes manter-se fiel à complexidade dos dados em jogo e, em particular, ao confronto dos dois protagonistas desta saga: o juiz e Gaëtan Zampa, o líder do cartel que tenta manter uma aparência de harmonia familiar e estabilidade social.
Como se diz na gíria, este é um filme de "acção"… mas o rótulo carece de pertinência, sobretudo se confundirmos a dita acção com duas ou três cenas de tiros e perseguições de automóveis. Claro que essas cenas estão lá (aliás concretizadas através de uma excelente montagem), mas não como um fim em sim mesmo — antes como elementos de uma dinâmica dramática que, afinal, elege como trunfo principal a complexidade psicológica das suas personagens. Daí a importância do labor dos dois excelentes actores principais: Jean Dujardin e Gilles Lellouche, respectivamente como Michel e Zampa.

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