As aventuras de


joao lopes
15 Jun 2017 0:05

Como encenar as atribulações, desejos, ilusões e desilusões da adolescência? Em boa verdade, de Nicholas Ray a David Lynch, passando por François Truffaut, essa é uma questão que tem mobilizado os mais diversos cineastas. E que, como agora se diz, é transversal ao universo de Michel Gondry — não admira que ele tenha regressado ao tema, num registo a meio caminho entre o melodrama e a paródia.

O ponto de partida de "Micróbio e Gasolina" (produção que chega às salas portuguesas dois anos depois da sua estreia em França) é, obviamente, sugestivo. Seguimos, assim, as aventuras de Daniel (Ange Dargent) e Théo (Théophile Baquet), respectivamente "Micróbio" e "Gasolina", dois jovens que decidem concretizar a sua ânsia de conhecer a França através de uma solução original — viajam num carro que é também uma casa…
Dir-se-ia que Gondry tem o ponto de partida… e pouco mais tem. Como se a mera acumulação de situações mais ou menos pitorescas fosse suficiente para sustentar uma narrativa de hora e meia. As personagens são simpáticas, os actores enérgicos, mas tudo se passa como se esta nostalgia linear — "a adolescência já não é o que era" — se esgotasse numa rudimentar auto-complacência.
Lembramo-nos, por contraste, do imenso talento de Gondry a dirigir telediscos, por exemplo para os Radiohead, Björk ou The White Stripes. Que é como quem diz: ele sabe criar eventos mais ou menos breves e sugestivos que funcionam exemplarmente na relação com a música, mas parece não se empenhar excessivamente nas exigências específicas de um filme. Recuemos, por isso, até 2003 e lembremos o teledisco que ele dirigiu para "The Hardest Button to Button", de The White Stripes.

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