joao lopes
8 Set 2017 0:44
Afinal, Steven Soderbergh não desistiu do cinema! Há cerca de quatro anos, tal hipótese não era uma mera metáfora: o realizador de "Sexo, Mentiras e Video" (1989) e "Ocean’s Eleven" (2001) estava mesmo cansado do sistema dos grandes estúdios e preferia trabalhar para televisão, fazendo, por exemplo, a série "The Knick" (2014-15). O certo é que algo mudou e aí o temos a dirigir o delicioso "Logan Lucky".
Até certo ponto, estamos perante uma variação da matriz de "Ocean’s Eleven". Ou seja: um grupo de golpistas mais ou menos inspirados decide montar um roubo espectacular — neste caso, nada mais nada menos que desviar (literalmente) as receitas das lojas durante uma corrida NASCAR. "Logan Lucky" — lançado entre nós como "Sorte à Logan" — é o metódico relato desse empreendimento à margem da lei.
Em boa verdade, Soderbergh nunca deixa de filmar o corpo vivo da América, desde as suas manifestações mais populares (NASCAR é um exemplo esclarecedor) até às nuances das mais insólitas relações familiares. Desta vez, Channing Tatum, já um habitué do universo de Soderbergh, e uma menina de invulgar talento, de seu nome Farrah Mackenzie, representam uma especial relação pai/filha, tão irónica quanto pontuada de delicadas emoções.
Seja como for, o registo global é de paródia sem complexos — "Logan Lucky" resulta da arte de virar um policial do avesso e, com isso, fazer espectáculo. That’s entertainment! Como sempre, com a cumplicidade de um magnífico grupo de actores em que encontramos ainda Adam Driver, em sofisticada caricatura, Riley Keough, um talento invulgar, e ainda Daniel Craig, bem longe do cliché de 007, agora de cabelo branco e especialista em arrombar cofres… Em resumo: Soderbergh voltou aos filmes para celebrar a alegria de fazer cinema.