joao lopes
20 Nov 2014 20:46
Hoje em dia, a noção (e o desenvolvimento comercial) da noção de franchise é qualquer coisa que contamina todos os domínios da economia — desde os restaurantes de hamburgers aos concursos da televisão, passando, claro, pelo cinema.
Os filmes não serão nem "bons" nem "maus" por pertencerem a uma franchise, mas convenhamos que não tem sido fácil manter alguma consistência, sobretudo nas sagas juvenis construídas a partir desse modelo — veja-se o caso patético de "Twilight", cujos episódios finais são de uma mediocridade confrangedora, muito distante do interessantíssimo primeiro título, assinado por Catherine Hardwicke, em 2008.
Aparentemente, ao terceiro filme — "Hunger Games: A Revolta – Parte 1" —, a saga baseada na trilogia de livros de Suzanne Collins parece estar a enfrentar esses problemas de desenvolvimento. Desde logo, porque, seguindo uma lógica (?) comum aos imensos desastres cinematográficos em que desembocaram "Harry Potter" e o já referido "Twilight", a última parte de "Hunger Games", com assinatura de Francis Lawrence (que já realizara o anterior "Hunger Games: Em Chamas"), foi repartida por dois filmes (estando o derradeiro episódio agendado para Novembro de 2015).
No caso de "A Revolta – Parte 1", tal decisão implica duas consequências práticas: em primeiro lugar, uma dilatação algo postiça das durações do filme, de tal modo que as "novidades" da acção surgem praticamente condensadas no respectivo trailer; depois, um enfraquecimento da dimensão simbólica da premissa fundadora de "Hunger Games" — a sobrevivência de uma juventude cujos membros são forçados, num mundo futurista, a digladiar-se em combates fatais, transmitidos em forma de Reality TV —, derivando o espectáculo para um confronto maniqueísta (revoltosos vs. "Capitólio") que limita a energia do espectáculo.
É pena, quanto mais não seja porque "Hunger Games" continua a existir através de uma elaborada concepção visual, neste caso especialmente impressionante na figuração da destruição do "Distrito 12". Isto sem esquecer, claro, que Jennifer Lawrence, no papel de Katniss Everdeen, consegue instalar as emoções mais diversas, mesmo nas situações mais banais (em contraste com gente tão talentosa, aproveitada de forma tão "decorativa", como Julianne Moore ou Philip Seymour Hoffman, nos papéis de presidente Alma Coin e Plutarch Heavensbee, respectivamente). Daqui a um ano saberemos até que ponto estas dificuldades foram superadas no filme final.