Dumbo, 2019 — Tim Burton refaz e recria o desenho animado de Walt Disney


joao lopes
28 Mar 2019 4:32

Um elefante pode voar? Digamos que para qualquer cinéfilo que se preze a pergunta não se coloca… Então não é verdade que, há mais de 70 anos, Walt Disney colocou o pequeno Dumbo a voar?

Sim, mas a questão é outra: em 2019, num tempo cinematográfico (muito pouco cinéfilo) dominado por super-heróis que já quase só sabem destruir galáxias e mais galáxias, será possível refazer a terna fábula do elefante de orelhas grandes?

Pois bem, a resposta é afirmativa. E desde logo porque se torna evidente que Tim Burton estudou cuidadosamente o filme original de 1941, reconhecendo, em particular, o motor da sua dramaturgia. A saber: a saga de um ser marginalizado (não é fácil ter orelhas tão grandes no país dos elefantes…), afirmando a sua diferença como essencial na definição da sua identidade. O novo "Dumbo" resulta, assim, um feliz regresso ao conceito mais primitivo de fábula — o que é a fábula se não uma viagem à procura da razão das origens?
Como é óbvio, o "Dumbo" de 2019 depende de um prodigioso aparato tecnológico, especialmente sensível na coexistência (na mesma imagem) do elefante digital com os actores muito humanos. Mas seria precipitado resumir o sucesso artístico do filme aos seus instrumentos de trabalho. Acontece que Burton é, no essencial, um narrador, quer dizer, um talentoso gestor dos tempos e das intensidades dramáticas.
O novo Dumbo expõe-se, assim, como um espantoso ser animado, reforçando as potencialidades de um sistema de representação visual posto em marcha, em 1993, com "Parque Jurássico", de Steven Spielberg. Ao mesmo tempo, o labor de representação dos actores — Danny DeVito, Eva Green, Colin Farrell, Michael Keaton, Alan Arkin, etc. — distingue-se pela sua riqueza emocional, a provar que a evolução tecnológica se pode fazer preservando as presenças humanas. E, por certo, defendendo os direitos dos elefantes — incluindo os que voam.

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