joao lopes
29 Out 2016 2:27
Acontece aos melhores… Subitamente, o cinema do canadiano Xavier Dolan parece ter sido sujeito a um abalo profundo. A vibração emocional de "Amores Imaginários" (2010) ou "Laurence para Sempre" (2012) deu lugar a uma retórica fechada nos seus efeitos: "Tão Só o Fim do Mundo" será, muito provavelmente, o seu filme mais simplista e gratuito.
Premiado em Cannes, com o Grande Prémio do certame, "Tão Só o Fim do Mundo" adapta a peça homónima de Jean-Luc Lagarce (1957-1995), recheada de elementos autobiográficos: um escritor decide rumar à casa da família para dar conta da doença terminal que o atingiu…
Dir-se-ia que Dolan não acreditou na força dramática do seu material, preferindo utilizá-lo antes como pretexto (?) para os actores se entregarem a formas de "improvisação" que, a pouco e pouco, redundam em excessos pouco mais do que gratuitos. Isto sem esquecer, claro, que ele tem a seu cargo um lote excepcional de profissionais, incluindo Marion Cotillard, Vincent Cassel, Léa Seydoux, Nathalie Baye…
Por contraste, talvez se possa dizer que, afinal, "Tão Só o Fim do Mundo" acaba por ser um dos projectos mais ousados de Dolan, procurando uma espécie de terreno ambíguo, algures entre teatro e cinema. Talvez, de facto — mas a conjugação de todos os elementos produz um formalismo redundante que, assim se espera, será anulado em filmes seguintes.