joao lopes
6 Jun 2015 19:25
Não serve de lei universal, mas é um facto que, quando deparamos com actores como Tom Hardy, Gary Oldman ou Noomi Rapace à deriva, sem qualquer direcção que os ajude a sustentar as suas personagens, não podemos deixar de sentir que algo falhou… Assim acontece em "A Criança nº 44", uma realização do sueco Daniel Espinosa inspirada num romance do inglês Tom Rob Smith.
O assasssinato de uma série de crianças é o motor da acção. Suscitando suspeitas em torno de figuras do Partido Comunista da URSS, poderia ser um pretexto minimamente consistente para abordar a época estalinista. O certo é que "A Criança nº 44" rapidamente abandona qualquer preocupação de carácter histórico, nem sequer conseguindo funcionar num mero registo de inquérito policial…
Aliás, a sensação de desperdício é tanto mais forte quanto este é um filme, por certo sustentado por sofisticados meios de produção, mas incapaz de construir uma cena com um mínimo de coerência narrativa. Tudo passa por uma montagem caótica em que, cedendo a uma das ilusões dos nossos tempos, se confunde a colagem de muitos planos de curta curação com a criação de genuínas tensões dramáticas.
À maneira de outras produções do mesmo teor, "A Criança nº 44" resultou da aliança de investmentos dos EUA e Grã-Bretanha com a participação de países como Roménia e República Checa (locais de algumas rodagens). Na prática, a fusão de contribuições tão diversas gera um objecto sem identidade própria, um "thriller" político que, afinal, se confunde com as convenções de um telefilme de rotina.