joao lopes
17 Jan 2019 0:51
Eis uma velha lição narrativa e simbólica que, não poucas vezes, é esquecida pela indústria cinematográfica: uma grande história, com personagens interessantes, investindo em sofisticados meios de produção não chega… para fazer um filme. É preciso um ponto de vista, ou melhor, um conceito sobre o modo de contar essa história.
Exemplos de tal equívoco não faltam. E agora, porventura com alguma surpresa, chegou mais um: "Maria, Rainha dos Escoceses", evocação de algumas convulsões célebres da segunda metade do século XVI britânico, opondo a monarca da Escócia a sua prima, Isabel I de Inglaterra — em jogo estava, afinal, o poder de um reino contra outro.
Aparentemente, terá havido a pueril intenção de sugerir (?) que o confronto entre as duas rainhas poderia ser uma espécie de eco metafórico dos muitos debates contemporâneos sobre a identidade feminina… Mesmo que houvesse algo de palpável para aproximar desse modo as duas épocas, convenhamos que seria preciso algo mais do que esta pobre estética de telefilme "histórico" em que nem sequer a gestão dramática do espaço funciona.
Josie Rourke, a realizadora estreante, é uma profissional com grande experiência de palco (directora artística da prestigiada Donmar Warhouse, em Londres). O certo é que nem mesmo algum rigor teatral "passa" para um filme em que se sente sempre que o trabalho de câmara é uma tarefa à deriva. Não admira que os esforços de interpretação de Saoirse Ronan e Margot Robbie (Maria e Isabel, respectivamente) sejam inglórios.