joao lopes
10 Abr 2015 2:37
Como todos os filmes conscientemente fora de moda, "Pela Rainha" (título original: "Queen and Country") possui a sedução de um certo primitivismo que não é banalmente nostálgico. Nada disso: ao retratar a Inglaterra pós-Segunda Guerra Mundial, John Boorman está a reafirmar a energia de um cinema que mantém uma relação dialéctica com a história colectiva e os destinos individuais.
Aliás, "Pela Rainha" é a continuação (tardia) de um dos melhores títulos da filmografia de Boorman: "Esperança e Glória" (1987), centrado nas atribulações de Bill Rohan (Callum Turner) e da sua família quando algumas das principais cidades inglesas estavam a ser bombardeadas pela aviação nazi. Agora, encontramos Bill já integrado no exército, no começo da década de 50, encarando a possibilidade de ser enviado para os cenários da guerra da Coreia.
Estranhamente, Boorman parece não ter uma opção segura para sustentar as dinâmicas dramáticas do seu filme. Por um lado, quase tudo o que tem a ver com a vida dos soldados é tratado num ritmo ligeiro, sempre à beira de uma caricatura mais ou menos simplista; por outro lado, por vezes, através da relação de Bill com Ophelia (Tamsin Egerton), parece haver uma procura hesitante de um certo fôlego romântico, ligado à tradição do melodrama de guerra.
Daí a sensação amarga e doce de um filme a que falta um programa narrativo para sustentar a sua revisitação da história. Dir-se-ia que Boorman gostaria de se sentir de novo envolvido na indústria a que pertenceram os nomes gloriosos de Michael Powell e Emeric Pressburger… mas a história (do cinema) não se repete.