joao lopes
4 Ago 2017 1:02
Há uma nova geração de realizadores americanos (e não só) que parece ter tido uma aprendizagem do cinema em que o domínio das técnicas mais sofisticadas surge como o primeiro item de trabalho e, não poucas vezes, o único objectivo. De tal modo que os seus filmes são cada vez mais delirantes na ostentação técnica, cada vez menos interessantes no plano do mais básico tratamento narrativo — "Baby Driver" (entre nós lançado como "Alta Velocidade"), de Edgar Wright, é um desses filmes.
Que acontece, então? Muito pouco. A personagem que se identifica apenas como Baby, composta por Ansel Elgort, é especialista na condução de automóveis em situações do máximo risco e aceleração — daí que seja regularmente contactado para apoiar a quadrilha comandada por Doc, interpretado por Kevin Spacey…
Na verdade, não são sequer verdadeiras personagens. Baby não passa de uma variação menor da personagem de Ryan O’Neal, em "The Driver", magnífico filme de Walter Hill com quase quarente anos (tem data de produção de 1978, embora só tenha chegado aos ecrãs portugueses em 1980), além de que Elgort está longe de ser um primor de subtileza. Por sua vez, Spacey parece condenado a assumir pela "enésima" vez uma variação anedótica, à beira do patético, da sua personagem em "Os Suspeitos do Costume" (1995), de Bryan Singer.
Outro actor fortemente penalizado é Jon Hamm, o impecável Don Draper de "Mad Men" — é sempre triste observar um profissional tão dotado a ser reduzido a um estereótipo de violência e sedução (?) que o transforma num mau desenho animado. Como se isto não bastasse, Baby pontua a sua condução com canções atrás de canções. Dito de outro modo: a banda sonora de "Baby Driver" é uma colagem sem pausas de matérias musicais, porventura no pressuposto de que assim se faz "à maneira de Quentin Tarantino"… Mas será que alguém já reparou na complexidade, inteligência e sofisticação da narrativa, quer dizer, das relações imagem/som, nos filmes de Tarantino?