joao lopes
5 Nov 2021 22:21
Que se passa, então? Pois bem, o mundo está à beira do apocalipse (ou para lá do dito, a coisa não é muito clara…), mas há um grupo de super-heróis para o/nos salvar. Alimentados a efeitos especiais policopiados, nada mais acontece a não ser ruído e confusão… E um obsceno desespero pelos actores, incluindo Angelina Jolie…
Aliás, tal como os seus companheiros do elenco de "Eternos" (Marvel/Disney), Angelina Jolie parece tão desamparada quanto consciente do absurdo do empreendimento — e, por certo, paga a a peso de ouro… Por um lado, filmam-na em meia dúzia de grandes planos, sujeita a reproduzir diálogos de galáctica indigência; por outro lado, refazem digitalmente o seu corpo para algumas proezas físicas que, de facto, não passam de piruetas de patético robot. Que é como quem diz: não necessitavam de uma actriz tão talentosa.
Fica o saldo simbólico (?) que o marketing quer vender. A saber: esta é uma realização de Chloé Zhao, a brilhante e "oscarizada" autora de "Nomadland" (2020), logo uma obrigatória (?) afirmação da identidade feminina…
Como?… Importa-se de repetir?… Em boa verdade, prevalecem os valores de uma fábrica de produção contínua, sem qualquer projecto artisticamente consistente. Aliás, sem sequer uma ideia, ainda que frágil, para contrariar o insuportável cliché do mundo vai acabar, quem o pode salvar?…
Fica, assim, por demonstrar que o facto de uma mulher dirigir um filme tão mau como aqueles que são assinados por homens seja uma proeza a ter em conta. Os arautos deste feminismo de pacotilha estão a matar, metodicamente, qualquer pensamento sério sobre o masculino/feminino, ao mesmo tempo que vão destruindo Hollywood por dentro.