joao lopes
12 Set 2015 0:39
Tempos houve (décadas de 1960/70) em que o "filme político" era tido como um género nuclear da actividade cinematográfica — pelos temas que reflectia, pela militância que, eventualmente, tentava sistematizar ou replicar.
Hoje em dia, cercados que estamos pelo cinema dos "efeitos especiais" (ou, pelo menos, pela sua promoção), são poucos os discursos jornalísticos que mostram algum empenho em lidar com o que, obviamente, não desapareceu. A saber: a dimensão política de qualquer trabalho cinematográfico.
Digamos que "O Presidente", do iraniano Moshen Makhmalbaf, é um filme que nos facilita o retorno a tal dimensão. Mais do que isso: a sua abordagem de uma história marcadamente política faz-se através de procura de um tom de fábula que se tornou raro na produção cinematográfica de quase todas as origens (neste caso, Makhmalbaf filmou na Geórgia, contando ainda com o apoio de produção de França, Alemanha e Reino Unido).
De alguma maneira, a vontade simbólica do filme fica, desde logo, expressa pela sua assumida abstracção. Assim, tudo se passa num país não identificado, regido por um presidente/ditador que, de facto, menospreza por completo a existência dos seus súbditos — na cena inicial, ensina mesmo o neto a mandar desligar as luzes da capital, poder totalmente arbitrário que, para ele, ilustra o gosto perverso de determinar os destinos dos outros…
O filme satisfaz-se com o alcance simbólico do seu dispositivo, de algum modo reforçado pelo facto de, depois de uma revolução triunfante que põe fim ao regime, presidente e neto se refugiarem no meio da população, vindo a descobrir a sua miséria e também as suas revoltas. Tudo isso faz de "O Presidente" um objecto curioso, pelo seu carácter excepcional, mas também algo maniqueísta e repetitivo, confundindo as sugestões metafóricas com o labor da narrativa.