29 Out 2015 19:35
"Drama de época"? "Comédia de costumes"? As expressões caíram em desuso e são até, por vezes, olhadas com alguma suspeição… Talvez porque os valores que arrastam pareçam ter-se transferido, em grande parte, para o espaço televisivo. Daí o misto de sedução e desilusão que um filme como "Marguerite" pode envolver: é uma tentativa de recriar aqueles modelos cinematográficos e, ao mesmo tempo, apresenta-se marcado pelas convenções menos empolgantes de séries e telefilmes.
O filme é menos uma caricatura da dimensão inapelavelmente ridícula de Marguerite e mais um inventário da sua trágica solidão. Isto porque o realizador Xavier Giannoli tem o cuidado (e, de alguma maneira, também o pudor) de não escamotear a componente mais visceral da personagem de Marguerite. A saber: o modo como ela acredita, realmente, no seu imaginário talento, num processo de auto-deslumbramento que ninguém quer contrariar e que, por fim, a aproxima da loucura.