Kristen Stewart em


joao lopes
30 Jun 2016 19:55

"Iguais" (título original: "Equals") é mais um daqueles filmes que surge no mercado "castigado" por um atraso difícil de compreender — trata-se, de facto, de um dos títulos da competição de Veneza de 2015. Em qualquer caso, convenhamos que há em tudo isto uma perversa "globalização": até mesmo nos EUA, só agora (15 de Julho) será lançado nas salas comerciais.

Acontece que este é, de facto, um objecto difícil de classificar. O realizador Drake Doremus, nome que vem da área dos independentes, não está especialmente interessado em satisfazer os lugares-comuns de um mercado dominado por "super-heróis", nem sequer no domínio específico — ficção científica — em que o seu trabalho se inscreve.
Para contar a história de um par (Kristen Stewart/Nicholas Hoult) ameaçado, num futuro inquietante, ele não copia ninguém — mesmo se é verdade que "Iguais" tem um parente distante, e essencial, no lendário "THX 1138", de George Lucas. Esta é, afinal, a saga de dois corpos que se tocam num universo em que a manifestação de qualquer emoção está, pura e simplesmente, interdita.
Estamos, assim, perante uma utopia que, embora construída em nome de uma noção extrema de "felicidade", na verdade se fundamenta na prática quotidiano de um medo generalizado — por regra, todos os que manifestam o mais discreto impulso emocional, são mesmo tratados e marginalizados como "doentes".
Para além da sóbria direcção dos seus actores, Doremus consegue, acima de tudo, construir um universo que, desde a austeridade da arquitectura até ao carácter asséptico das cores dos cenários, envolve uma concepção política de profunda desumanização: "Iguais" é um panfleto de ficção científica, tão fora de moda quanto envolvente e perturbante — vale a pena estarmos atentos às ofertas do mercado para lá do ruído promocional dos "blockbusters".

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