Toni Servillo no labirinto do poder — uma comédia dramática sobre a política


joao lopes
27 Nov 2014 23:42

Como falar de política, hoje em dia? Aliás, a pergunta talvez seja, inevitavelmente: como falar da política dos nossos dias sem falar de televisão? No cinema italiano, em todo o caso, temos encontrado respostas/filmes que vão no sentido de nos mostrar, através dos mais diversos registos, que a política se faz cada vez mais através das imagens (e sons) da televisão — de Ettore Scola a Nanni Moretti são muitos os cineastas empenhados em tal visão.

"Viva a Liberdade", de Roberto Andò, é um filme que aposta na possibilidade de relançar tal temática, por assim dizer redistribuindo os dados através de um registo de comédia dramática a que, em última instância, talvez seja mais correcto chamar farsa. Porquê? Porque, afinal, esta é a história de um dirigente político que, a certa altura, é substituído no exercício das suas funções pelo seu irmão gémeo…
Imagem, portanto. Quando Enrico Oliveri, num misto de desgaste físico e desencanto moral, se afasta das suas funções de liderança, o seu mais fiel assistente pressente uma "solução" francamente inesperada: Giovanni, irmão gémeo de Enrico, poderá ocupar o lugar, mantendo a ilusão de continuidade — mesmo se Giovanni, com os seus desequilíbrios psicológicos, poderá trazer problemas para que ninguém estava preparado…
Tendo trabalhado a partir de um romance de sua autoria ("Il Trono Vuoto"), Roberto Andò consegue sustentar a sua frágil ficção num clima de contida ironia, expondo um mundo em que verdade e suas aparências parecem existir numa espécie de incesto mediático. É a prova real de que continua a haver um cinema italiano genuinamente político, sem esquecer, neste caso, o misto de subtileza e elegância com que Toni Servillo ("A Grande Beleza") consegue compor duas personagens tão iguais e tão diferentes.

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