crítica
A vida interior das canções
Já conhecíamos John Carney como um cineasta interessado nas matérias musicais; agora, em "Sing Street", ele encena, com dedicação e contagiante energia, o nascimento de uma banda rock na Irlanda da década de 80.
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19 Jun 2016 1:00
É mesmo verdade: há mais mundos cinematográficos para lá da avalanche de blockbusters e das suas ruidosas campanhas publicitárias… Há, em particular, filmes que não promovem o culto banal da tecnologia (?), preferindo antes celebrar o cinema como um acontecimento visceralmente humano. Dito de outro modo: ainda há quem se interesse por personagens e cultive o gosto de contar histórias.
O cineasta irlandês John Carney tem dado mostras de se interessar pela vida interior da música, em particular das canções. Assim acontecia em "Once/No Mesmo Tom" (2007) e "Begin Again/Num Outro Tom" (2013), o primeiro dos quais vencedor de um Oscar (de melhor canção, precisamente). Agora, com "Sing Street", combinando o realismo social com algumas componentes tradicionais da comédia romântica, trata-se de contar a história de uma banda rock irlandesa no ambiente muito peculiar da década de 1980.
"Sing Street" é, antes do mais, um filme que revaloriza a música como matéria dramática e narrativa. A história dos jovens estudantes que, fascinados pelo que está a acontecer com bandas como os Duran Duran ou The Cure, decidem formar o seu próprio grupo integra as canções como elementos fulcrais, muito para além de qualquer função "decorativa" na banda sonora. Mais do que isso: a prática musical envolve uma ruptura decisiva com os valores mais conservadores do meio escolar e social.