Os jovens protagonistas de Naomi Kawase — perante os enigmas da natureza


joao lopes
25 Abr 2015 0:53

Um cadáver é descoberto por um rapaz numa praia da ilha subtropical de Amami… Assim se inicia um enigma inevitavelmente policial. O que aconteceu? Como explicar a ocorrência? Se há culpas, a quem as atribuir?

O rapaz partilha a descoberta com a namorada. E aquilo que parecia desenrolar-se como um típico processo de inquérito, vai adquirindo dimensões inusitadas. Dir-se-ia que o facto abala todas as estruturas da ilha, desde os espaços familiares até ao equilíbrio entre humanos e elementos naturais.
Em boa verdade, "A Quietude da Água", escrito e realizado pela japonesa Naomi Kawase, é mesmo um filme sobre a emergência de desequilíbrios que se exprimem, precisamente, através da natureza e respectivos contrastes. Tudo se passa no interior de uma comunidade com um muito particular entendimento do sagrado — uma árvore existe, afinal, habitada por alguma entidade divina…

Apresentado no Festival de Cannes de 2014, "A Quietude da Água" é um daqueles objectos que desafia qualquer descrição convencional, quanto mais não seja porque pressentimos que a sua universalidade começa, paradoxalmente, num universo cultural que, para nós, está muito distante (e não apenas na geografia).

As cenas filmadas na (quietude da) água são exemplares dessa tão particular pulsação dramática da narrativa de Kawase. Tudo se passa como se a natureza existisse, não num regime de transparência simbólica, antes como máscara em permanente transfiguração — e, com ela, a própria identidade de cada ser humano.

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