22 Fev 2020 0:08
Cerca de um ano depois de "Assim Nasce uma Estrela", de Bradley Cooper, talvez seja inevitável supor que "Wild Rose" — sobre uma cantora escocesa que quer triunfar no domínio sagrado da música "country", em Nashville, EUA — possa ser um descendente directo do filme que consagrou Lady Gaga também como actriz de cinema. Na verdade, trata-se de um paralelismo difícil de sustentar.
Isto porque "Wild Rose" (lançado entre nós com o subtítulo… "Rosa Selvagem") está longe de corresponder a uma qualquer ilustração das matrizes dramáticas do filme de Cooper, claramente inscritas na tradição de Hollywood. Agora, face ao filme dirigido por Tom Harper, deparamos com uma abordagem que não podemos deixar de aproximar de uma certa tradição melodramática da produção britânica.
Em boa verdade, a vertente melodramática apresenta-se indissociável de um tom realista também ele genuinamente britânico. Afinal de contas, a saga de Rose-Lynn, interpretada por Jessie Buckley (nomeada para o BAFTA de melhor actriz), envolve elementos narrativos ligados a um certo imaginário popular e às suas personagens mais emblemáticas. Dito de outro modo: a utopia de Nashville funciona também como um comentário das condições de vida de toda uma comunidade.
É pena que tudo isso seja trabalhado a partir de um argumento tão formatado quanto previsível. Estamos mesmo perante um filme que se satisfaz com um esquematismo dramático que, a certa altura, parece sobretudo empenhado em gerar pretextos para a introdução das canções de Rose-Lynn. O que, convenhamos, paradoxalmente, acaba por expor o melhor do filme. A saber: a composição de Jessie Buckley, vibrante e contrastada, capaz de integrar o canto como elemento visceral da sua personagem. Enfim, a tradição talvez já não seja aquilo que era, mas o talento dos actores britânicos continua disponível.