10 Jan 2019 22:22
A propósito da estreia do novo filme protagonizado por Natalie Portman, "Vox Lux", talvez seja inevitável referir que, pelos vistos, há uma "tendência" para regressar aos retratos de cantoras pop com trajectos mais ou menos atribulados… Temos, de facto, o exemplo modelar de "Assim Nasce uma Estrela", com Lady Gaga; agora, esta realização de Brady Corbet (que se estreara em 2015 com "A Infância de um Líder") traz-nos uma personagem de nome Celeste a contas com memórias traumáticas.
O filme procura mesmo estabelecer um nexo, não exactamente causal, mas psicológico e dramático, entre dois períodos fulcrais da vida de Celeste: primeiro, em 1999, ela e a irmã (Stacy Martin) sobrevivem a um tiroteio na escola que frequentam, acabando por ganhar fama através de uma canção sobre tal experiência; depois, em 2017, já com 31 anos e uma filha, Celeste está numa encruzilhada decisiva da sua carreira no mundo da música.
Apetece lembrar uma frase feita, mas esclarecedora: a premissa com que o filme trabalha é sugestiva, mas uma história não vale por si, antes através do seu tratamento narrativo. E cedo se torna evidente que Corbet não tem muitas ideias para encenar a saga de Celeste, a não ser uma colecção de lugares-comuns sobre a passagem à idade adulta, a fama e o universo pop. E tanto mais quanto o seu trabalho se apresentado dominado por um formalismo "televisivo" que, numa derivação arbitrária, acaba por dominar a (longa) performance final, dir-se-ia que tentando fingir que estamos perante um… filme-concerto.
Em qualquer caso, o mais penoso de tudo isto é a desqualificação implícita dos intérpretes. Portman, em particular, protagoniza um dos momentos mais incómodos da sua carreira, tentando salvar (?) pelo overacting aquilo que é, no fundo, tão só, a incapacidade do filme criar personagens consistentes. Veja-se ou reveja-se a sua performance em "Jackie" (2016), de Pablo Larraín, e avaliem-se as diferenças…