crítica
Atom Egoyan ou a arte da incerteza
Com excelentes interpretações de David Thewlis e Laysla De Oliveira, "Convidado de Honra" é mais um exemplo dos temas e obsessões do cinema de Atom Egoyan — em cena está uma família a contas com o seu próprio assombramento...
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9 Jul 2020 18:17
O canadiano Atom Egoyan é um genuíno autor. Entenda-se: os seus filmes não são "melhores" nem "piores" por causa da sua marca autoral; o certo é que reflectem a coerência de um universo temático que, como em qualquer domínio autoral, implica uma dimensão obsessiva. Aí está mais um revelador exemplo: "Convidado de Honra", longe das suas mais sofisticadas proezas — recordo, em particular, "O Futuro Radioso", Grande Prémio de Cannes/1997 —, mas preservando uma envolvente estranheza.
O menos que se pode dizer sobre o argumento de um filme de Egoyan (de novo de sua autoria) é que se trata de um jogo, calculado e sofisticado, com as evidências que o espectador detecta e as ambiguidades que podem arrastar. Dito de outro modo: "Convidado de Honra" evolui como um policial virado do avesso — quando tudo parece chegar a um estado de naturalidade, as nossas certezas podem ser francamente mais frágeis no que no início…