Bartosz Bielenia: um actor a descobrir num filme que está nos Óscares


joao lopes
7 Fev 2020 22:50

Cinema da Polónia: Andrzej Wajda, Jerzy Skolimowski, Roman Polanski… Lembramo-nos de imediato dos nomes clássicos, hesitamos quando tentamos estabelecer algum elo com a produção mais recente.

Jan Komasa — eis o nome que surge agora no horizonte do mercado, favorecido pelo impulso dos Óscares. O seu "Corpus Christi – A Redenção" é um dos cinco nomeados na categoria de melhor filme internacional (designação que substitui a de melhor filme estrangeiro). E o mínimo que se pode dizer é que possui a virtude de colocar em cena uma paisagem, social e afectiva, eminentemente polaca, visceralmente católica.

O efeito perturbante da dramaturgia do filme decorre da ambivalência da sua personagem central, o jovem Daniel, 20 anos, preso num centro de detenção juvenil — ao regressar à vida social, procurando emprego na serração de uma pequena povoação, torna-se acidentalmente padre.
Interpretado por um notável actor, de seu nome Bartosz Bielenia, Daniel rapidamente se descobre numa teia emocional à beira do insustentável: por um lado, a população vai sendo cada vez mais sensível aos seus dotes de pregador; por outro lado, ele teme que a sua condição acidental seja descoberta…
Komasa parece ser um cineasta empenhado em valorizar os índices realistas — sublinhe-se a detalhada caracterização da povoação em que Daniel se integra —, ao mesmo que pressente o peso simbólicos dos temas com que lida. Em última instância, "Corpus Christi" é mesmo um filme sobre o contraste entre a religião como "aparato" colectivo e a religião como expressão de uma genuína crença individual. Em resumo: um filme exterior aos modelos dominantes do mercado, a merecer ser descoberto.

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